Em tempos de empresas enxutas e pressão por resultados, a inteligência emocional é fator preponderante no sucesso profissional.
No auge da crise mundial de 2009, William Hill era trainee em um importante banco de operação de crédito em Chicago. Em um dia de muitas perdas no mercado, boa parte dos experientes analistas do grupo entraram em um processo de tensão e ansiedade que foi agravando, a cada momento, os investimentos dos clientes do banco. Mantendo a calma e agindo de forma equilibrada, William começou a obter os melhores resultados de toda a sua equipe. Em meio a milhões de planilhas e cálculos, um dos experientes analistas do banco perguntou a Hill com ar de ironia: “Que fórmula mágica você está usando?” O jovem profissional respondeu: “A mesma que você, mas não estou me deixando levar pela tensão do momento”.
Com diferentes proporções, todos os profissionais passam por momentos de tensão em suas profissões. E, em um período de crise como o que estamos vivendo, a pressão por resultados torna esse cenário ainda mais cotidiano. E, em situações como essas, saber conviver com sentimentos como preocupação, ansiedade, medo, angústia é a chave para não perder o controle da própria carreira. É aí que entra em jogo uma velha conhecida do mundo corporativo: a inteligência emocional.
O termo tornou-se conhecido, em 1995, com o lançamento do best-seller “Inteligência Emocional”, do americano Daniel Goleman, e é definido como a capacidade de sentir, entender, controlar e modificar o próprio estado emocional ou o de outra pessoa. Mas por que ele se tornou tão importante no mundo das empresas e dos negócios? Porque Goleman mostrou que, cada vez mais, o sucesso ou insucesso dos profissionais estão muito mais ligados ao Quociente Emocional do que ao Quociente de Inteligência (QI). Não é à toa que hoje, no mundo corporativo, se costuma dizer que os profissionais são contratados, geralmente, por seus conhecimentos técnicos, mas demitidos por problemas comportamentais. Segundo estudos, o QE está ligado a 58% do sucesso profissional em qualquer carreira.
A questão é que, quando estamos sob pressão, existe uma maior probabilidade de deixarmos transparecer aquelas características que, muitas vezes, classificamos como negativas, reações carregadas de emoção: choro, agressividade, ou até mesmo desrespeito aos colegas de trabalho. Por isso, em momento de crise, a inteligência emocional ganha ainda mais força. É o que acredita a psicóloga Raquel Sarmento, especializada no segmento corporativo. “A Inteligência emocional é um equilíbrio e centramento, que ajudam na qualidade da presença nos ambientes corporativos, também nas relações pessoais e até mesmo na capacidade de estar só. No ambiente profissional, preserva as relações de parceria com respeito e mantém um bom nível de energia para a realização. No círculo pessoal/familiar, evita que ocorra uma contaminação com o estresse vivido no trabalho, isto é, que se acabe “descarregando” nos entes queridos toda a frustração e raiva que foram adquiridas ao longo da jornada de trabalho. E, em si mesmo, evita a somatização em doenças físicas e síndromes como depressão, pânico e burn out, tão comuns hoje em profissionais, em decorrência de situações estressantes no trabalho”, revela.
E, em momentos nos quais as empresas estão trabalhando com quadros mais enxutos, é essencial que cada membro esteja ativo, capacitado, e também presente – doenças causadas pelo estresse são a causa número um de afastamentos por motivos de saúde. “A inteligência emocional ajuda a pessoa a manter-se equilibrada, competente e atuante.”
“Um profissional emocionalmente inteligente trabalha melhor e gera menos ruído na equipe”, completa a profissional.
Treinar a mente
Diferente do que muitos pensam, a inteligência emocional pode, sim, ser treinada e aprimorada e não é simplesmente uma capacidade inata. Por isso, há sempre formas de trabalhar no objetivo de aumentar o quociente emocional. “Todo mundo pode exercitar o equilíbrio e, se for persistente, vai conseguir. Meditar, respirar, contar até dez, fazer pequenos intervalos ao longo do dia, são algumas dicas. Mas o principal, em minha opinião, é o autoconhecimento: quanto mais você se conhece, mais sabe o que pode tirá-lo do sério e como modificar suas reações”, analisa Raquel.
O autoconhecimento, realmente, é fator decisivo para melhorar a inteligência emocional, mas ainda não é uma realidade para boa parte da população que está nas empresas. Segundo um estudo feito por TravisBradberry e Jean Greaves, autores do livro “Emotional Intelligence 2.0” (Inteligência emocional 2.0), da TalentSmart, apenas 36% das pessoas conseguem identificar suas próprias emoções. Feita com mais de 500 mil pessoas ao longo de uma década, a pesquisa demonstra que essa competência, além de rara, é muito valiosa.
Por isso, mesmo em tempos difíceis, de extrema pressão, o principal é manter-se equilibrado e lembrar sempre que seus comportamentos são tão ou mais importantes que o seu desempenho e conhecimento técnico. “A inteligência emocional melhora a qualidade das relações e faz o profissional ser mais bem aceito por outros, portanto, mais respeitado e requisitado. Uma boa fama sempre ajuda na carreira”, finaliza a psicóloga.
Raquel Sarmento
Formada em Psicologia pela USP e em Coaching pelo ICI – Integrated Coaching Institute, atua como Consultora de Desenvolvimento Humano, Coach profissional e pessoal, Psicoterapeuta, Facilitadora de grupos e Anfitriã praticante da Arte de Anfitriar Conversas Significativas (ArtofHosting). Possui experiência de 15 anos atuando como Business Partner e Gerente de Desenvolvimento, em empresas como Natura, Unilever, Cargill e Sealed Air.
Foi responsável pela implementação de diferentes técnicas e metodologias de gestão de pessoas e desenvolvimento organizacional, como Gestão de Talentos da Lominger, metodologias de Gestão de Desempenho, Academias de Liderança, Gestão do Clima Organizacional, entre outros.
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Rê Spallicci