Jornalistas que trabalham no meio esportivo falam sobre o machismo no futebol e a expectativa delas para a Copa do Mundo da Rússia
Faltam 14 dias para o início da Copa do Mundo! E, mesmo quem não liga muito para futebol, não consegue ficar indiferente a este evento que movimenta o mundo. A gente aqui no Brasil, então, fica contando os dias para a festa do futebol começar! Eu adoro o clima de Copa, de reunir a família e os amigos para torcermos juntos. Acho uma delícia!
É claro que, como amante dos esportes em geral, não podia deixar que meu blog passasse em branco neste momento, né? Por isso, hoje, eu começo uma série de matérias, o Elas na Copa, que vai expor sobre Copa do Mundo, porém, mais especificamente, do mundo do futebol por meio do nosso olhar feminino! Afinal, chega desse papo de que futebol é coisa de homem, né? Nós, mulheres, gostamos, entendemos e fazemos, sim, parte desta paixão que une povos de todo o planeta bola.
Na primeira matéria da série, o papo é com as jornalistas que cobrem futebol e sobre a recente campanha,lançada por elas, que aborda o assédio no esporte, o #deixaelatrabalhar. Vamos lá? Apita o árbitro e começa a partida!
Chega de assédio! #deixaelatrabalhar
Imagine só! Você está trabalhando, e um desconhecido chega do nada ao seu lado e tenta lhe dar um beijo na boca!!! Agora pense neste terror com mais um agravante: você está em frente a uma câmera de TV, transmitindo ao vivo em rede nacional! Pois foi exatamente isto que aconteceu com a Bruna Deltry, jornalista do Esporte Interativo, que sofreu este episódio de assédio, ao cobrir um jogo do Vasco na Taça Libertadores.
Mas se engana quem pensa que é um caso isolado. A diferença do caso da Bruna para tantos outros de assédio que acontecem no futebol é que ele ocorreu em frente às câmeras! Infelizmente, em pleno século XXI, existe muita gente que ainda acha que futebol é coisa de homem, e que aquele espaço não pertence à mulher, justificando, na visão distorcida de uma parte da sociedade, brincadeiras, xingamentos e desvalorização do trabalho das mulheres jornalistas!
Ana Thaís Matos, jornalista do SporTV e da rádio Globo, conta que o problema começa dentro das próprias redações dos veículos esportivos. “O mundo é machista, não é exclusividade do esporte nem do futebol. Já passei e passo por várias coisas – como não aceitarem meus furos de reportagem e insinuarem que eu consegui determinada notícia porque fui beneficiada por ser mulher”, comenta.
No entanto, se é possível dizer que o caso da Bruna teve um lado positivo, foi que ele desencadeou uma reação imediata das mulheres que trabalham no esporte, mediante a campanha #deixaelatrabalhar. Na semana em que aconteceu o episódio com a Bruna, 52 jornalistas de diversas emissoras e veículos lançaram a campanha com um vídeo que chamou atenção de toda a mídia no Brasil e no mundo, e que teve o objetivo de dar um basta nessas atitudes e explicitar para a sociedade o que as mulheres passam no meio do futebol.
“O movimento chamou atenção da mídia internacional e levou o debate para dentro das redações – local dominado por homens que não querem perder seus espaços e usam do machismo como forma de inibir nossa presença. Além, é claro, de muitas mulheres que eram machistas e não percebiam. O maior legado é a discussão de que isto não é mais aceito”, revela Ana Thaís.
Beatriz Casadei, com passagens por Band, SBT, Record e TV Tem, afiliada da Globo em Sorocaba e região, e atualmente na Rede Família de Televisão, conta que o maior problema que enfrentou no futebol pelo fato de ser mulher foi com as torcidas. “Os homens nos estádios passavam cantadas ou gritavam palavras de desrespeito. Isso é absurdamente inaceitável, mas a gente finge que não ouve pra continuar trabalhando.
No todo, tive uma experiência muito bacana com os profissionais que estão diretamente ligados ao esporte, mas sei que foi sorte, porque infelizmente o machismo é forte, e nós, mulheres, sofremos muito.”
Atualmente trabalhando na Arena Corinthians, a também jornalista esportiva Thamara Prado conta que nunca passou por um caso mais forte de assédio, mas sabe de amigas que já sentiram o problema na pele. “Certa vez, em um jogo no interior, um preparador de goleiros passou uma cantada em uma colega na hora de entregar a relação dos times”, revela.
Apaixonadas por esporte!
Mas, assim como acontece com as mulheres em tantas áreas, não é o assédio que as impede de trabalhar e demonstrar todo o seu talento.
Atleta de futebol dos 9 aos 18 anos, com beach soccer e depois futsal, a Ana Thaís sempre curtiu esporte e também jogou vôlei e um pouco de basquete na infância. E foi essa proximidade e a paixão pelo esporte que abriram as portas do meio esportivo para ela, após se formar em comunicação. Hoje, é considerada uma das mais talentosas e respeitadas da área.
Mas não é fácil! Para a Beatriz Casadei, as mulheres que estão no esporte têm sempre que estar se provando. “Hoje, como fico apenas no estúdio, a situação é mais tranquila, mas a preocupação em passar credibilidade, convencer de que não estou ali à toa, apenas como um enfeite, existe. Eu faço a interação com o público, recebo milhares de mensagens e, a todo o tempo, somos questionadas e colocadas à prova, coisa que não acontece com os homens”, revela.
Thamara comenta que até mesmo nos círculos de amizade o preconceito acontece. “Quando começo a discutir futebol com amigos, falando sobre tática, posicionamento e analisando os jogos, às vezes, percebo aquele risinho do tipo: ‘o que esta menina está falando’, como se, por ser mulher, a gente não pudesse entender e amar futebol.”
Prontas para a Copa do Mundo
E, por falar em paixão, eu não poderia deixar passar a oportunidade de falar com estas três especialistas sobre a Copa do Mundo e as chances da nossa seleção. E as três foram unânimes em apontar que acreditam no nosso time! E que chegaremos à Copa como uma das seleções favoritas!
“Acredito que será uma grande Copa e que as chances da nossa seleção são ótimas. Favorita como Alemanha, Argentina e Espanha. Tite tem um caminho que, se não for agora, a conquista do título será em 2022. O Brasil é a maior Seleção do Mundo”, analisa Thaís.
Para a Beatriz, após a decepção de 2014, há hoje uma seleção mais fortalecida. “O Tite é um excelente técnico e conseguiu dar uma cara ao time. Se o Neymar estiver bem, devidamente recuperado da cirurgia, acho que o Brasil pode sonhar com o título”, prevê.
Opinião semelhante tem a Thamara que acredita que com Tite o time ficou mais unido e sem tanto individualismo. “Os números das eliminatórias e dos amistosos demonstram o quanto chegamos bem na Copa! Acredito que traremos, sim, o hexa”, torce.
Durante os dias de Copa do Mundo, a Thaís e a Bia estarão trabalhando arduamente na cobertura do Mundial, aqui no Brasil, enquanto a Thamara, de férias na Europa, vai aproveitar para ver como os outros países curtem o Mundial. “Estou levando uma câmera e quero gravar um mini doc, mostrando como os outros povos encaram a Copa. Vai ser algo bem legal e divertido.”
Que as três e todas as mulheres que trabalham no futebol possam fazer um ótimo trabalho e uma excelente cobertura para nós que estamos aqui na torcida pela nossa seleção. E que na Copa, na Libertadores, no Brasileirão, ou até na Várzea, haja, acima de tudo, respeito pelas profissionais! #deixaelatrabalhar
https://m.youtube.com/watch?v=60UgZN5yjqg
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Rê Spallicci