Conheça a história do Projeto Ballet Paraisópolis, criado por Monica Tarragó, que atende a 200 crianças da segunda maior comunidade carente de São Paulo.
Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. A voz firme, contando os compassos, ecoa na sala forrada com linóleo. As bailarinas se esforçam para buscar o movimento perfeito. Esforço, suor, dedicação, amor.
Cenas como essa se repetem, diariamente, nas mais variadas partes do mundo: dos aclamados Ballet Bolshoi de Moscou ou Joffrey Ballet de Nova Iorque até as pequenas academias de cidades interioranas. O ballet se renova dia a dia e, a cada instante, uma menina ou menino sonham em ganhar o mundo mostrando a sua arte.
E, se esse sonho era praticamente impossível para as crianças da comunidade de Paraisópolis, há quatro anos ele começou a se tornar realidade, graças ao desprendimento e à paixão de uma mulher: a bailarina e coreógrafa Monica Tarragó.
Bailarina com carreira internacional e professora no Teatro Nuevo de Torino, Itália, e de renomadas academias no Brasil, Monica resolveu encarar o maior desafio de sua vida, no ano de 2010, quando começou a desenhar o projeto que mudaria a vida de centenas de crianças.
“Escolhi Paraisópolis, pois via a Comunidade todos os dias e tinha vontade de ajudar. Além disso, a Comunidade de Paraisópolis estava muito organizada e estruturada para os projetos sociais”, relembra a bailarina.
Dois anos após o início do desenho do projeto, em 2012, o Ballet Paraisópolis abria as suas portas, atendendo a cem crianças na faixa etária de 8 a 12 anos, na União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis.
“A comunidade nos recebeu de braços abertos e, devagar, reconheceram a seriedade de nosso trabalho. Hoje, estamos com 200 crianças, sendo 197 meninas e três meninos, e contamos com uma fila de espera com mais de mil crianças”, afirma Monica.
As aulas do projeto são ministradas de segunda a sexta-feira, com duração de uma hora cada, e ao menos dois sábados por mês são realizados ensaios gerais para preparar alunas e alunos para as futuras apresentações.
Formando cidadãos
O ballet é uma atividade que mistura a sensibilidade da arte com a disciplina e rigidez do esporte. Para se tornar um bom bailarino, são necessárias horas e horas diárias de treinamento, uma dieta alimentar adequada e muita dedicação.
Por isso, muito mais do que futuros bailarinos, o projeto vem ajudando a formar cidadãos. Ao longo dos anos de formação do projeto, os alunos fazem aulas de dança contemporânea, participam de workshops com bailarinos profissionais, saem para assistir a apresentações de companhias de ballet renomadas de São Paulo, visitam pontos culturais, fazem oficinas de inglês, assistem a palestras sobre orientação sexual e hábitos alimentares, e muito mais. Tudo isso para formar bons bailarinos, mas também pessoas mais qualificadas e instruídas.
“O ballet é transformador, ele dá muita responsabilidade, organização e muda os hábitos alimentares das crianças. Mesmo que o jovem não queira seguir a carreira de bailarino, ele está qualificado para o mercado de trabalho, pois, como as exigências da dança são tantas, o profissional torna-se preparado para ter sucesso no mercado.”
E nesses quatro anos de projeto, Monica conta que se surpreendeu com os talentos que identificou, tanto para o ballet clássico como para o contemporâneo, e com a vontade de aprender que as crianças demonstram. Ela acredita que boa parte dos seus alunos conseguirá fazer a formação e poderá seguir carreira profissional. “Sou a pessoa mais realizada ao ver que consegui transformar e dar uma carreira para várias crianças. É motivo de muito orgulho e satisfação”, confessa.
Mas, apesar do sucesso do projeto, nem tudo são flores para Monica. O projeto ainda sofre com um espaço físico limitado e busca por novos patrocinadores (hoje o projeto é patrocinado pelo Itaú, por meio de leis de incentivo) para duplicar a quantidade de crianças beneficiadas. Porém, passo a passo, a bailarina acredita que conseguirá continuar alimentando o seu sonho e o das crianças. “Quero dar continuidade ao trabalho com ajuda dos patrocinadores. Em segundo lugar, fazer a formação plena e, em 2020, conseguir formar a companhia Ballet Paraisópolis”, revela.
A história da coreógrafa e do ballet já serviram de inspiração para uma recente novela da Rede Globo. Na obra “I Love Paraisópolis”, a atriz Françoise Forton interpretou Isolda, uma bailarina inspirada na vida real da bailarina. “Ela é nossa grande inspiradora”, disse Françoise Forton, em matéria publicada no Portal Terra, em junho de 2015.
E os alunos de Monica darão uma mostra de seus talentos, amanhã, dia 16 de julho, às 16 horas, em uma apresentação gratuita no Parque do Ibirapuera. O espetáculo Dançando com a Alma será uma mostra do trabalho realizado durante quatro anos de curso, composta por um divertissement com 24 coreografias nas modalidades dança contemporânea, ballet clássico, de repertórios e neoclássico. A apresentação contará ainda com a participação das bailarinas convidadas: Isabella Rodrigues (São Paulo Companhia de Dança) e Sofia Tarragó (Pavilhão D). Um programa para aqueles que apreciam o ballet ou, simplesmente, para quem quiser conhecer de perto uma bela história de amor pela arte e pelo próximo.
Que a voz de Monica continue ecoando pelos salões de ensaio do Projeto Paraisópolis e no coração das centenas de crianças que tiveram as cortinas de uma nova realidade abertas pela coreógrafa que lhes deu uma oportunidade de bilhar nos palcos da vida.
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Rê Spallicci