Conheça a história da jovem bailarina Kemilly, do Projeto Ballet Paraisópolis, que vem usando a dança para mudar sua vida.
São mais de 100 mil habitantes em uma imensidão de aglomerados de casas e pessoas das mais variadas origens. Assim é Paraisópolis, a segunda maior comunidade de baixa renda de São Paulo. Sobre o terreno que, em 1921, daria lugar a um loteamento para casas de classe alta, famílias sem posses e, principalmente, migrantes nordestinos foram se instalando e, em meados da década de 1970, cerca de 20 mil moradores já ocupavam a área.
Localizada em uma região nobre da cidade, Paraisópolis cresceu rodeada de condomínios luxuosos e acompanhou o crescimento do seu “irmão rico”, o bairro do Morumbi, criando algumas das imagens mais contrastantes de São Paulo, em uma cidade já recheada de contrastes.
Na comunidade há vários problemas diários. Casas em área de risco, violência, pouca atenção do poder público, quase nenhuma área de lazer. Um cenário que desperta poucas possibilidades para crianças e adolescentes. Mas não para todas. Algumas das crianças da comunidade são privilegiadas e conseguem fazer parte de importantes iniciativas culturais que brotam na região, como, por exemplo, o Projeto Ballet Paraisópolis.
Kemilly Luanda Rodrigues da Silva, 13 anos, é uma dessas meninas que participam do projeto. Desde 2012 aprendendo ballet, ela já viu sua vida mudar para melhor. “Antes, eu ficava a tarde toda entediada em casa e agora faço ballet e sou mais feliz”, revela.
Para participar das aulas, Kemilly passou por um processo seletivo e se juntou às 200 crianças que hoje são atendidas pela professora Monica Tarragó no Ballet Paraisópolis. Mas outras tantas esperam uma oportunidade em uma fila de espera que atinge a marca de quase 800 crianças. O projeto precisa de mais espaço e recursos!
Com quatro anos de aprendizado, a jovem bailarina já se imagina como uma profissional do ballet e tem o sonho de viajar o mundo mostrando a sua arte. “O ballet já faz parte de mim e da minha vida. Eu não me imagino sem esta profissão”, comenta.
Porém, muito mais do que uma carreira, o ballet ensinou para Kemilly outras valiosas lições que serão fundamentais para a sua vida, tanto nos palcos como em qualquer outro segmento profissional que ela venha a seguir. A menina conta que a dança a fez mudar hábitos em relação a seu estilo de vida e também a tornou uma pessoa melhor nos estudos. “Eu aprendi a me organizar melhor, ser mais educada e hoje me preocupo mais com a minha saúde”, enumera.
Em uma comunidade onde as perspectivas de sucesso profissional são pequenas, devido à falta de oportunidades, a participação de Kemilly no Ballet Paraisópolis trouxe uma esperança nova. A família vislumbra a possibilidade de um futuro com muito mais brilho para a menina. “Meus familiares acreditam que eu possa chegar muito longe com a dança, e isso me enche de orgulho”, afirma a bailarina.
Orgulho é também a palavra que Kemilly utiliza quando é questionada sobre seu sentimento ao subir no palco. “Dançar significa expressar meus sentimentos e, quando me aplaudem, me sinto orgulhosa pelo meu esforço.”
Hoje, a menina de uma simples comunidade de São Paulo já vem dando voos mais altos no ballet, participando de campeonatos, graças a sua dedicação e talento. E foi no primeiro campeonato de que participou que Kemilly teve a certeza de que, por meio da dança e da arte, ela poderia suplantar todas as fronteiras do preconceito e da desigualdade social.
“Aquele dia foi especial, pois era meu primeiro solo em um campeonato. Eu estava muito ansiosa, nervosa e, ao mesmo tempo, feliz e me sentindo realizada por ter chegado a este ponto.”
Em um país marcado por uma enorme desigualdade social, ver histórias como a de Kemilly nos enche de esperança de que há sempre a possibilidade de mudança e de melhora na vida das pessoas. Nossa torcida é para que mais e mais crianças possam ter a oportunidade de mostrar e lapidar o seu talento, seja para a arte ou para qualquer outra profissão. E que nossa jovem bailarina prossiga realizando seus sonhos e possa continuar ouvindo os aplausos por toda a sua dedicação e comprometimento.
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Rê Spallicci