Saiba como a rede está ajudando as mulheres a se conectarem e a lutarem pela igualdade de direitos.
Ao analisarmos a história do movimento feminista, veremos que ela se construiu em ondas. A primeira onda, entre os séculos 19 e 20, teve como foco original a promoção de igualdade nos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres. Era uma época de casamentos arranjados e um tempo em que as mulheres e seus filhos eram considerados propriedade do marido. Nesse mesmo período, a luta pelo voto também foi uma luta dos movimentos feministas.
Entre as décadas de 1960 e 70, surge uma nova onda e a luta em pauta passa a ser a reforma das leis das famílias. Nesse período, o feminismo começa a permear vários aspectos da vida, ganha força política e questões culturais e sociais passam também a ter força no movimento. Foi a época pela luta da valorização das mulheres no trabalho, direito ao prazer e contra violência sexual.
A terceira onda, que se inicia na década de 1990 e continua até os dias de hoje, começa a discutir paradigmas estabelecidos nas décadas anteriores e, principalmente, a incluir na pauta a crítica de que discurso universal é excludente. E que as opressões atingem as mulheres de diferentes formas.
E mais recentemente, mais ainda dentro dessa terceira onda que um novo elemento surge e ajuda a amplificar o movimento feminista: o poder de conexão da internet e das redes sociais.
Giovana Camargo, cofundadora da Comum, uma plataforma que mistura conteúdo e encontros on-line para impulsionar os movimentos feministas reforça importância das redes nesse novo momento do feminismo.“A Internet proporcionou maior conexão entre mulheres. Com isso, trouxe disseminação de informações para o movimento, que antes eram mais restritas aos núcleos acadêmicos, alcançando mais mulheres e a criação de mais espaços de diálogos entre nós”, revela.
Por meio das redes, muitos movimentos organizados pelas mulheres ganharam uma dimensão e uma repercussão que não seriam alcançadas se não fosse a internet. Um desses exemplos de sucesso foi a campanha Chega de FiuFiu, que combate o assédio em lugares públicos, com ilustrações que foram compartilhadas por milhares de pessoas na Internet, por meio do projeto Think Olga, um thinktank disposto a repensar o papel da mulher. “A Chega de FiuFiu foi a maior denúncia sobre o assédio nas ruas que já existiu, aconteceu de forma espontânea e revelou que é um problema latente e emergente que até então não reconhecíamos como assédio e abuso, por ser algo muito naturalizado e cotidiano. Então, foi uma forma de acordo, entre nós, mulheres, de que o que sofremos é uma violência sistêmica e frequente e não vamos nos silenciar mais”, analisa Giovana.
E outras campanhas surgiram espontaneamente na Internet, como a #meuamigosecreto, em que as mulheres comentaram comportamentos machistas comuns, e a #agoraéquesãoelas, em que colunistas homens cederam espaço na imprensa às mulheres, entre outras.
“Sinto que a redes sociais nos aproximam muito, pois conseguimos saber da realidade das mulheres no mundo todo. O intercâmbio de informação e de vivências tem nos tornado mais fortes a tal ponto que identificamos que muitas das questões enfrentadas por nós não são condições pessoais, que não estamos sozinhas, e que é uma questão social e estrutural. Acho que elas vêm sendo fundamentais para nosso fortalecimento”, revela Giovana.
Uma nova geração
Mais do que uma ferramenta de compartilhamento, a internet vem ajudando a criar uma nova geração de mulheres que, desde cedo, têm um senso mais apurado sobre a importância do feminismo e da defesa de seus direitos.
Nascidas em uma sociedade com mais liberdade e autonomia do que as gerações passadas e com o poder da conexão, cada vez mais meninas entendem a necessidade de lutar pela manutenção dos direitos já adquiridos pelos movimentos feministas e de continuar a luta por outras conquistas.
Afinal, ainda há muito para se caminhar na questão da igualdade. A luta pelos direitos iguais pode ser brevemente compreendida, de acordo com o seguinte cenário: mundialmente falando, mulheres recebem 30% menos de salário do que os homens, mesmo executando o mesmo cargo. De toda a riqueza mundial, apenas 1% pertence ao sexo feminino, mesmo sendo 49% da população. Além disso, casos mais graves se configuram no campo da violência e discriminação das mulheres. O Brasil é um dos países que mais sofre com a violência doméstica, enquadrando-se no 5º lugar do ranking, com o maior índice de homicídios contra a mulher.
Neste ano de 2016, completam-se dez anos que entrou em vigor a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) que ampliou a proteção da vida da mulher em casos de agressão. Porém, mais do que uma questão de lei, a mudança deve ser cultural. “Precisamos tomar consciência e reconhecer as violências que praticamos no cotidiano, responsabilizando-nos por esse problema que é social e reproduzido por todos. Os homens precisam de se responsabilizar por suas ações e entender que quem pratica a violência diariamente são homens comuns”, finaliza a feminista.
Busque seu propósito. Deixe o seu legado
Renata Spallicci
Giovana Camargo é entusiasta de movimentos colaborativos, CNV, feminismo e comunidades. Dedica-se ao empoderamento feminino por meio de encontros, conteúdo e assessoria de projetos para mulheres.
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Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci