Atenção plena no presente

Vivemos a era da informação. Diariamente somos bombardeados por uma quantidade gigantesca de dados, pelos mais diversos meios. E-mail, redes sociais, dezenas de canais a cabo, aplicativos de comunicação instantânea, livros, sites, blogs…

Para se ter uma ideia do quanto hoje temos acesso à informação, segundo pesquisas, uma só edição do jornal americano The New York Times contém mais informações do que uma pessoa comum recebia durante toda a sua vida há 300 anos. São bilhões de páginas disponíveis na Internet, estão em circulação mais de 100 mil revistas científicas no planeta e, a cada dia, mais de mil livros são editados no mundo.

E esse excesso de informação está tornando a nossa sociedade doente. Ansiedade, déficit de atenção, depressão e outras patologias psíquicas assolam o mundo.

É neste contexto que uma técnica milenar, a meditação, assume um novo formato e outra perspectiva: a chamada Mindfulness (em tradução livre, atenção plena).

“Mindfulness é uma valiosa ferramenta para lidarmos com as situações desafiadoras do dia a dia sem entrarmos em combustão interna”, explica Fernanda Berbel Migueres, instrutora de Mindfulness, certificada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

Apesar de ter suas raízes no Budismo, Mindfulness é uma prática laica, desvinculada de contextos cultural, étnico ou religioso, e se traduz em técnicas que permitem a qualquer pessoa viver melhor e sofrer menos. “Mindfulness é uma habilidade que pode ser treinada através de técnicas meditativas e exercícios psicoeducativos vivenciais que integram corpo e mente”, comenta Fernanda.

Por meio dessas técnicas é possível criar mecanismos para aumentar a atenção no momento presente e lidar melhor com as distrações do mundo moderno.

“Mindfulness nos ajuda a ter um poder de escolha diante das mais diversas situações. Com as práticas, paramos de trabalhar no piloto automático e pensamos de forma mais consciente sobre cada decisão que vamos  tomar, desenvolvendo hábitos e comportamentos mais saudáveis e reconhecendo que é no aqui e agora que está a chave para uma real transformação em nossas vidas”, revela a instrutora.

Benefícios

O primeiro programa de Mindfulness foi criado em 1982 por Jon Kabat-Zinn,  professor Emérito de Medicina e diretor fundador da Clínica de Redução do Stress e do Centro de Atenção Plena em Medicina, na Escola Médica da Universidade de Massachusetts. O programa, denominado MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction), foi criado com o objetivo de reduzir os elevados níveis de estresse detectados em pacientes portadores de dor crônica.

Hoje, as intervenções baseadas em Mindfulness têm sido aplicadas para ajudar pessoas com diagnósticos de câncer, ansiedade, depressão, dor crônica, cardiopatias, entre outros transtornos relacionados ao “estresse”.  Além desses casos, a prática é indicada também para indivíduos considerados “saudáveis”, mas que vivem neste ambiente de estresse do dia a dia.

Após oito semanas em um programa de Mindfulness, é possível notar mudanças significativas na vida dos participantes, como redução dos níveis de estresse, redução dos sintomas de ansiedade e depressão, aumento nos níveis de inteligência emocional, maior capacidade de comunicação, concentração e atenção, maior estabilidade emocional, entre outros benefícios.

Para praticar Mindfulness, a pessoa deve procurar um instrutor qualificado para aprender as técnicas. Após o término do programa, o indivíduo estará apto a dar continuidade às práticas, sozinho ou em grupos.

Hoje, estima-se que 8% dos americanos pratiquem Mindfulness, e algumas empresas, como Google, General Mills, Genentech, Apple, Sony e até o exército dos Estados Unidos, aplicam a técnica para melhorar o desempenho e a atenção de suas equipes.

“Com Mindfulness adotamos uma atitude aberta, curiosa e não julgadora, direcionada ao momento presente e, com isso, criamos espaço para escolhas mais assertivas e conscientes”, finaliza Fernanda.