Um dos mais renomados e requisitados palestrantes do Brasil, Clóvis de Barros Filho fala com exclusividade sobre ética, propósitos e muito mais!
Clóvis de Barros Filho é atualmente um dos mais requisitados palestrantes do País. Suas aulas e palestras sobre ética já foram ouvidas por milhões de pessoas, em todos os estados do Brasil e também no Uruguai, na França, no México, na Argentina, na Espanha, em Portugal, entre outros países.
É autor de mais de uma dezena de livros, entre os quais, o best-seller “A vida que vale a pena ser vivida” (em parceria com Arthur Meucci, Vozes), no qual escreve sobre o verdadeiro propósito da vida, e “Somos todos canalhas” (em parceria com Julio Pompeu).
Esta última obra é um diálogo apaixonado sobre o valor e seus muitos significados. Como atribuir valor a uma obra de arte, paisagem, conduta humana? O que nos faz dizer que uma pessoa é mais bonita que outra, ou que uma ação é melhor que outra, ou ainda, que um funcionário é mais útil que outro? Para viver e conviver, é preciso, o tempo todo, responder a perguntas como essas, uma vez que não há nada que façamos sem supor quanto valem as coisas. E, mais do que isso, é necessário entender que não existem referências aceitas por todos, razão pela qual estamos sempre escolhendo com base em interesses pessoais, o que nos leva constantemente ao conflito.
É para nos ajudar a viver com a consciência dos valores que nos guiam que Clovis e Julio escreveram o referido livro. Ou os compreendemos e assumimos as rédeas de nossa existência, agindo de acordo com esses valores, ou então, nos deixamos devorar por eles e vivemos uma vida cujas referências são estranhas a nós mesmos.
Para falar sobre essa obra e o atual momento do Brasil, além de nos expor a respeito de sua obra mais famosa, conversamos com o Professor Clóvis. Acompanhe:
Renata Spallicci – Estamos vivendo um momento de grande crise ética no Pais. Esse é um fato novo ou o senhor acredita que apenas as condições proporcionaram que essas questões viessem à tona?
Clóvis de Barros Filho -A ética sempre foi e sempre será discutida. Isso porque não se trata de uma resposta única e certa sobre a vida, mas propriamente da reflexão sobre qual o melhor caminho a seguir. Portanto, reflexão sobre ética é constante e interminável.
RS – Como curar essa “doença ética” pelo qual nosso País, empresas e instituições passam? O senhor acredita que a educação é a melhor saída?
CBF – Não há como curar. Há discussão constante, e isso é o máximo que podemos fazer, considerando nossa condição humana de seres frágeis, imperfeitos, desejantes e complexos. Viver não é necessariamente adotar um caminho único e determinado, mas aceitar as mudanças, a contingência, a necessidade de criar e de recriar, seja nossa carreira ou nossos valores e nossa moral. Sem dúvida, no entanto, há valores mais desejáveis que outros. A justiça é mais desejável que a injustiça, por exemplo, a compaixão, mais desejável que o egoísmo. A única perspectiva em que a sociedade poderá sobreviver a si mesma é, desde Platão, fazer introjetar os valores mais republicanos às cabeças de nossos jovens, o que, sem dúvida, deve se dar pela educação. Não por uma educação autoritária e metódica, mas, na questão ética, por uma educação que coloque em questão a discussão, a reflexão, a aceitação do outro e a busca pelo bem comum.
RS – O senhor fala muito em suas palestras e livros sobre a busca pelo nosso propósito de vida. O senhor acredita que ética e busca pelos propósitos caminham juntas, ou seja, quando não sabemos nossos propósitos, tendemos a não sermos éticos?
CBF – Não caminham juntas, são a mesma coisa. Encontrar nosso lugar, nossa razão de ser, ou propor-se a reinventar-se, conforme a dança da vida, são escolhas morais e representam, imediatamente, a ética que teremos que adotar para vivermos e agirmos no sentido destas propostas. Muitas empresas estão revendo seus códigos de ética e suas políticas para afastarem a possibilidade de problemas. Só isso resolve ou é preciso uma mudança mais profunda das empresas, dos sistemas e, principalmente, das pessoas? Eu trabalho com revisão de código de Ética em várias empresas e o que noto é que a mera confecção de um documento, por mais suntuoso e coerente que possa ser, não terá adesão eficaz, se não houver um intensivo trabalho de conscientização moral aliado à participação do máximo de pessoas possível no levantamento das questões morais agravantes dentro daquele ambiente e as consequentes soluções mais adequadas. Se não houver engajamento no processo, não há engajamento no resultado. A questão ética nas organizações é uma questão sempre presente, sempre viva, que não pode ser sazonalizada em uma simbólica revisão de código.
RS – No livro “Somos Todos Canalhas”, o senhor faz uma provocação, afirmando que todos nós temos atitudes canalhas em nossas vidas. Somos também todos antiéticos?
CBF – Não. A antiética não existe nesse sentido. Só faz sentido falar de antiética quando a ética é dada como líquida e certa. O canalha tem sua ética: a ética do canalha. Ela é boa? Aí é outra discussão. Podemos, no máximo, dizer que o canalha age segundo uma ética destrutiva ao bem comum; logo, ele e sua ética devem ser rejeitados nos ambientes que pretendem harmonia e prosperidade. Em ambientes corporativos, onde periodicamente se decide e se conclama uma série de princípios e valores pelos quais conduzir a convivência, uma atitude discrepante pode ser chamada de antiética, mas, no plano geral, todos têm éticas, que podem ser boas ou más, benéficas ou prejudiciais, egoístas ou altruístas.
RS – Voltando à questão do propósito e do livro “A vida que vale a pena ser vivida”. Qual é a vida que vale a pena ser vivida?
CBF – É a sua. Eu digo no livro e repito sempre que posso: cabe a cada um de nós buscar os caminhos de nossa felicidade. Somos incrivelmente singulares, nossas especificidades não se deixarão jamais traduzir em fórmulas e estratagemas de vida boa. Cabe, portanto, a advertência de que o que serve para uns necessariamente não servirá para outros, de maneira que a vida que vale a pena ser vivida é a pergunta que rege cada vida individualmente. Apenas os charlatões proporão saber mais de você que você mesmo. Então, estufemos o peito e encaremos esta pergunta que nunca nos abandonará, e que é a única pergunta à qual interessa responder.
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Clóvis de Barros Filho possui graduação em Direito pela USP e em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, mestrado em Science Politique pela Université de Paris 3 – Sorbonne-Nouvelle e doutorado em Ciências da Comunicação pela USP. Obteve a Livre-Docência pela Escola de Comunicações e Artes da USP, onde atualmente é professor.
Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Teoria e Ética do Jornalismo, e Teoria e Ética da Publicidade, atuando principalmente nos seguintes temas: ética, comunicação, habitus, jornalismo e publicidade.
Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci