Entenda a verdadeira relação entre felicidade e sucesso e compreenda como as interações positivas que mantemos em nossa vida são mais importantes que dinheiro e conquistas materiais.
Sou uma leitora e consumidora compulsiva de livros. Se eles abordarem temas ligados à realização ou ao autoconhecimento, então, eu devoro rapidinho. E um livro que me chamou atenção ultimamente é “O Jeito Harvard de Ser Feliz”, de Shawn Achor. O autor é consultor e pesquisador americano e foi professor na prestigiosa Universidade de Harvard, onde pesquisou por muitos anos a relação entre felicidade e sucesso.
Sua palestra no TED “O segredo feliz para trabalhar melhor” é uma das mais populares, com mais de sete milhões de visualizações, e a pesquisa de Shawn sobre a felicidade foi publicada no “Harvard Business Review” e em outras revistas científicas.
Achor é um seguidor da psicologia positiva, teoria em que também acredito e sigo, e, no livro, ele apresenta uma nova perspectiva sobre a relação entre sucesso e felicidade. E é exatamente esta nova visão fascinante que quero compartilhar com vocês.
Invertendo o polo felicidade – sucesso
Normalmente, pensamos no sucesso como se ele fosse o planeta Terra e a felicidade fosse a Lua. Ou seja, tendemos a acreditar que a felicidade “gravita” em torno do sucesso, com base na crença de que a felicidade é o que vem imediatamente após o sucesso. Pensando assim, primeiro devemos trabalhar duro para ter sucesso, e aí, então, seremos felizes por causa daquilo que conseguimos e alcançamos com o nosso trabalho.
Mas Shawn Achor acredita que essa relação é exatamente oposta, o que significa dizer que a felicidade é a Terra, e o sucesso, a Lua, pois é o sucesso que “gravita” em torno da felicidade. É a felicidade que nos levará a ter sucesso em tudo aquilo que fazemos, e não o contrário. Podemos ter sucesso e sermos infelizes, e os exemplos que comprovam isso nós vemos a toda hora. No entanto, se estivermos felizes, tenderemos a ser mais bem-sucedidos.
Mas, se o sucesso não nos leva à felicidade, como devemos fazer para alcançá-la? Segundo Achor, o grande segredo está nas interações que temos com as outras pessoas e, para provar a sua teoria, ele se utiliza de uma ferramenta conhecida como Linha de Losada.
Pessoas de alta performance
A Linha de Losada é uma ferramenta extraordinária que tem o poder de impactar seus relacionamentos, sejam pessoais ou profissionais.
Marcial Losada, psicólogo e cientista, desenvolveu uma metodologia científica em que atesta que pessoas de alta performance elogiam baseando-se em uma métrica. Ele defende que, para conservar relacionamentos humanos de qualidade, é preciso manter três interações positivas contra uma negativa. É como se as três positivas neutralizassem aquela negativa.
Em outras palavras, os indivíduos e grupos que vivem acima de uma proporção de três interações positivas (como um louvor ou um sorriso) por um negativo (como uma queixa ou algum sinal de desprezo) tendem a “florescer”. Abaixo dessa relação, a tendência é “desaparecer”.
As interações positivas e negativas podem acontecer de várias maneiras. Algumas formas possíveis são: interações orais, elogios escritos ou feedback positivo, expressões gestuais (por exemplo, um polegar para cima) e interação corporal (por exemplo, um toque no ombro).
Os indivíduos acima da linha Losada tendem a ser significativamente mais felizes e produtivos. Não só serão propensos a trabalhar mais e melhor, como serão mais inovadores e criativos. O resultado disso é que eles tendem a ser mais bem-sucedidos.
De acordo com Achor, a proporção ideal é de 6 para 1. Os benefícios dessa razão são maiores quando vivemos em ambientes nos quais as interações positivas são seis vezes mais positivas do que as negativas. Ter essa relação de interação nos tornará capazes de produzir mais e melhor.
Achor ressalta que muitos de nós vivemos em meio a relacionamentos com indivíduos e grupos que estão longe da proporção de 6 a 1 ou da Linha de Losada (3 a 1). O que é bastante lamentável. A falta de interações positivas é um hábito social muito forte que é condicionado pela nossa cultura. O autor argumenta que devemos fazer um esforço para aumentar as interações positivas e diminuir as negativas, ao interagir com as pessoas com as quais nos relacionamos e / ou os grupos dos quais fazemos parte. Isso será bom não só para a nossa felicidade e sucesso, mas para aumentar o bem-estar geral daqueles que nos rodeiam.
O que é preciso para viver uma boa vida?
A análise que Achor faz como resultado de seus estudos encontra fundamento em outra pesquisa também desenvolvida em Harvard, a Harvard Study of Adult Development, um projeto de pesquisa que, desde 1938, acompanhou de perto e examinou a vida de mais de 700 homens e, em alguns casos, seus cônjuges. O estudo revelou alguns fatores surpreendentes que determinam o que faz as pessoas envelhecerem de forma feliz e saudável, ou solitárias e em declínio mental.
O trabalho contraria as pesquisas que mostram que a maioria dos jovens adultos acredita que a obtenção de riqueza e fama são chaves para uma vida feliz, pois confirma que o mais importante para se envelhecer bem e viver uma vida longa e feliz não é a quantidade de dinheiro que você acumula ou a notoriedade que você recebe, mas sim, a força de seus relacionamentos com familiares, amigos e cônjuges.
“Nós publicamos nossas descobertas em periódicos acadêmicos que a maioria das pessoas não lê”, disse Robert Waldinger, professor clínico de psiquiatria na Harvard Medical School. “Mas nós realmente queríamos que as pessoas soubessem que esse estudo existe e que tem sido realizado por 75 anos. Nós fomos financiados pelo governo há tantos anos, e é importante que mais pessoas saibam disso além de acadêmicos”, ele afirma.
O estudo começou em Boston na década de 1930 com dois grupos muito diferentes de jovens.
Em um caso, uma equipe de pesquisadores decidiu rastrear os estudantes universitários de Harvard até a idade adulta para ver quais fatores desempenharam papéis importantes em seu crescimento e sucesso. O estudo recrutou 268 estudantes de segundo ano de Harvard e os acompanhou de perto, com entrevistas frequentes e exames de saúde. Nos últimos anos, o estudo também incorporou exames cerebrais, tiragem de sangue e entrevistas com cônjuges.
Em torno da mesma época em que o estudo começou, um professor da Faculdade de Direito de Harvard, chamado Sheldon Glueck, começou a estudar homens jovens de alguns dos bairros mais pobres de Boston, incluindo 456 que conseguiram evitar a delinquência, apesar de terem vindo de casas problemáticas. Eventualmente, os dois grupos foram mesclados em um estudo.
Ao longo das décadas, os homens que participaram do estudo atuaram em todos os setores da vida. Eles se tornaram advogados, médicos, empresários e – no caso de um estudante de Harvard chamado John F. Kennedy – presidente dos Estados Unidos. Outros trilharam caminhos diferentes: alguns se tornaram alcoólatras, tiveram carreiras decepcionantes ou afundaram em doenças mentais. Aqueles que permanecem vivos hoje estão na casa dos 90 anos.
Ao longo dos anos, o estudo produziu muitas descobertas notáveis. Ele mostrou, por exemplo, que, para envelhecer fisicamente, a única coisa mais importante que você poderia fazer era evitar fumar. Descobriu que os liberais tinham vida sexual mais longa e mais ativa do que os conservadores. Descobriu que o álcool foi a principal causa de divórcio entre os homens, e que o abuso de álcool frequentemente antecedeu a depressão (e não o contrário).
O estudo passou por vários diretores. O Dr. Waldinger, que assumiu o trabalho em 2003, é o quarto. Ele expandiu o estudo para que ele se não se concentrasse apenas nos homens, mas também em suas esposas e filhos. Os pesquisadores começaram a gravar os casais em suas casas, estudando suas interações e entrevistando-os, separadamente, sobre quase todas as facetas de suas vidas.
Como os pesquisadores analisaram os fatores que, ao longo dos anos, influenciaram fortemente a saúde e o bem-estar, eles descobriram que as relações com os amigos, e especialmente com os cônjuges, eram importantes. As pessoas com relações mais fortes foram protegidas contra doenças crônicas, doenças mentais e declínio da memória – mesmo que essas relações tivessem muitos altos e baixos.
“Esses bons relacionamentos não precisam ser suaves o tempo todo”, disse o Dr. Waldinger. “Alguns de nossos casais de octogenários poderiam brigar dia após dia. Mas, enquanto eles sentiam que podiam realmente contar com o outro, quando as coisas ficassem difíceis, todo o quadro deles era mais favorável.”
O Dr. Waldinger encontrou um padrão semelhante entre os relacionamentos fora do lar. As pessoas que procuraram substituir antigos colegas de trabalho por novos amigos, depois de se aposentar, foram mais felizes e saudáveis do que aqueles que deixaram o trabalho e colocaram menos ênfase na manutenção de redes sociais fortes.
“Uma e outra vez nesses 75 anos”, disse o Dr. Waldinger, “nosso estudo mostrou que as pessoas que melhoraram foram as que se apoiaram em relacionamentos com a família, com amigos e com a comunidade.”
Dr. Waldinger reconheceu que a pesquisa mostrou uma correlação, não necessariamente causalidade. Outra possibilidade é que as pessoas que estão mais saudáveis, fazem e mantêm relacionamentos, enquanto aquelas que estão mais doentes, gradualmente se tornam mais isoladas socialmente ou acabam em relacionamentos ruins. Mas ele disse que, por ter seguido os assuntos por muitas décadas e comparando o estado da saúde e os relacionamentos dos pesquisados desde o início, se sente bastante confiante em afirmar que fortes laços sociais são um papel causal na saúde em longo prazo e no bem-estar.
Sendo assim, quais as ações concretas que ele recomenda? “As possibilidades são infinitas”, disse ele. “Algo tão simples como substituir o tempo na tela com o tempo das pessoas, ou animar um relacionamento obsoleto, fazendo algo novo juntos, longas caminhadas ou noites especiais. Ligue para o membro da família com quem você não fala há anos – porque essas rixas familiares muito comuns causam um impacto terrível nas pessoas que guardam rancores.”
Pratique a gratidão
Por isso, eu sempre prego que devemos cotidianamente praticar a gratidão em nossas vidas e em nossas relações interpessoais. E, se a gente parar para pensar e se atentar, há tantas coisas bacanas que nos acontecem e às quais deveríamos dar mais valor e sermos mais gratos! Já pensou em anotar as coisas boas que lhe aconteceram ao longo do dia e depois compartilhar com sua família? Ou ainda, ter o hábito de mandar mensagem de texto, a fim de valorizar e agradecer às pessoas que o ajudaram? Essas são as tais interações positivas que Achor destaca como fundamentais para a felicidade e que são tão simples de serem realizadas.
No texto O Poder da gratidão e a força das palavras, eu trago alguns exercícios que podemos realizar diariamente para sermos mais gratos às coisas que nos acontecem e às pessoas que nos rodeiam.
Leia também o meu artigo Psicologia positiva – saiba como transformar a sua vida! e veja outros exemplos de como podemos transformar nossa vida, partindo de nossa atitude diante do mundo e dos problemas que enfrentamos.
Se todos nós agíssemos assim, certamente, as interações positivas criariam uma verdadeira corrente do bem e, quem sabe, o nosso dia e nosso mundo seriam mais leves e simples.
Leia também:
O Poder da gratidão e a força das palavras
Psicologia positiva – saiba como transformar a sua vida!
Supere crenças limitantes e viva melhor
Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci