Ao trocar uma carreira promissora por um propósito de vida, Roger Werner Koeppl descobriu que trabalhar por algo em que se acredita pode render muitos mais frutos do que promoções e reconhecimento. Confira na série Jovens Talentos.
O Brasil coleciona histórias de jovens talentos em várias áreas de atividades. Seja no esporte, nas artes e também nos negócios e no empreendedorismo, o jovem brasileiro vem mostrando toda a sua capacidade e seu talento. Escolhemos um deles para abrir nossa série de reportagens sobre os jovens talentos verde-amarelos. Acompanhe a história deste empreendedor paulistano, apontado como um dos possíveis sucessores do fundador da Apple e guru da inovação, Steve Jobs…
Nascido na Vila Ede, zona norte da cidade de São Paulo, filho de uma enfermeira e um vendedor, Roger Werner Koeppl sempre foi um empreendedor precoce. Aos 12 anos, começou a se virar para ter um dinheirinho a mais, vendendo pirulitos na escola e lavando carros aos finais de semana para não precisar “depender tanto da grana dos pais”, conta.
E foi com esta mesma precocidade que Roger ingressou no mercado de trabalho. Estudante do curso técnico em Mecânica, no SENAI, aos 15 anos já trabalhava no escritório de uma metalúrgica, aos 17 cursava a Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC) e já tinha passado por algumas empresas multinacionais. Mas foi aos 19 que ele teve a primeira grande oportunidade em sua carreira. “A empresa onde eu trabalhava estava próxima de pegar um contrato para ser responsável pelo Centro de Distribuição da Apple, e eu fui escolhido para ir aos Estados Unidos e Inglaterra e participar dessa negociação.”
Com o sucesso na conquista desse contrato, Roger passou a se destacar em sua carreira corporativa e, aos 21, foi promovido a supervisor de Engenharia de Processos, na empresa onde trabalhava, sendo alocado para trabalhar na Fiat. “Vivia em êxtase naquele momento da minha vida e tinha como meta ser CEO antes dos 30, com meu nome estampado nas capas das revistas de negócio”, conta.
Mas uma experiência mudou a sua vida.
Ano de 2011. Chuvas castigaram as cidades serranas cariocas e milhares de pessoas perderam tudo e ficaram desabrigadas. Roger resolveu ir a um centro de distribuição de doações da Cruz Vermelha para entregar alguns itens como donativos. “Chegando lá, vi que o recebimento estava bem desorganizado e, quando me dei por conta, estava ajudando a organizar tudo, utilizando o meu conhecimento de processos de produção. Esta experiência aconteceu em um final de semana e, quando voltei ao trabalho na segunda-feira, vi que aquilo não era mais para mim. Precisava de um novo propósito em minha vida. O que estou fazendo para o mundo? eu me perguntava.”
Foi então que Roger começou a pensar uma alternativa para unir o seu conhecimento em processos fabris a algo que lhe desse um propósito maior. “Comecei a pesquisar e quando ouvi falar sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos notei o quanto o mercado de reciclagem tinha a evoluir.
Paralelamente, fui estudar o cooperativismo e percebi que, por meio de uma cooperativa, eu poderia ter um modelo de desenvolvimento não só econômico, mas também social e ambiental.”
Nascia assim a YouGreen, cooperativa de catadores, que realiza o trabalho de coleta seletiva, triagem, conscientização, diagnóstico e logística reversa de resíduos recicláveis.
Reconhecimento nacional e internacional
Trabalhando de forma totalmente inovadora no mercado, logo a YouGreen e, consequentemente, Roger começaram a se destacar e a atrair os olhares de diversos setores da sociedade.
Resultado disso são os prêmios que Roger já recebeu como o Jovens Talentos da Fundação Arymax, Jovens Inspiradores e Jovens Embaixadores Ambientais, oferecidos por instituições como o Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (PNUMA), Bayer, Veja.com e Fundação Estudar, além de ser destaque em uma publicação internacional pelo Peace Child International.
Lembra-se do sonho de fazer uma carreira bem-sucedida no cenário corporativo e ganhar as páginas das revistas de negócios? Esse reconhecimento chegou em 2013, quando o jovem empreendedor já não tinha qualquer anseio nesse sentido. Aos 24 anos, Roger foi indicado pela Revista Forbes, publicação conhecida mundialmente pela elaboração das listas das pessoas mais ricas e mais influentes do mundo, como um dos possíveis sucessores de Steve Jobs em termos de inovação.
“Ser reconhecido foi importante porque abriu mais espaço para a YouGreen e, mais do que isso, para que eu pudesse falar mais sobre a importância do modelo de cooperativismo. Meu objetivo é mostrar o quanto uma cooperativa de catadores pode ser tão ou mais eficiente do que uma empresa do mercado, desde que esteja pautada nos princípios cooperativos, na boa governança, gestão e qualidade”, diz.
No modelo da YouGreen, que hoje já conta com 18 cooperados, os aspectos social, ambiental e econômico andam juntos. “Somos uma empresa totalmente democrática, na qual cada indivíduo possui um voto, independente da quantidade de capital investida ou função”, explica.
Ainda seguindo o seu propósito, Roger acredita que, se conseguir ampliar o conceito que aplica na sua cooperativa para outros setores de negócio, poderá ajudar o Brasil a dar um salto de produtividade.“As empresas precisam compreender que o colaborador quer participar das decisões e quer ser um indivíduo. Quando as pessoas trabalham nessas condições, elas são mais produtivas e, o mais importante, mais felizes”, afirma.
Hoje, Roger divide o seu tempo entre “vender latinhas”, como ele mesmo brinca, dar palestras e administrar a cooperativa. Ao ser questionado se, em algum momento, se arrependeu de sua escolha, Roger devolve de primeira. “Nunca. Nada para mim é mais importante do que acordar sabendo que eu trabalho por algo em que eu verdadeiramente acredito e que estou cumprindo o meu propósito de vida”, finaliza.
Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci