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Carreira

Como as empresas podem apoiar toda a jornada da maternidade

A transição para a maternidade pode ser desafiadora, especialmente para aquelas mulheres que também desejam continuar a desenvolver suas carreiras.

 6 de abril de 2023
7 min de leitura

Empresas e maternidade

Ser mãe é uma das experiências mais transformadoras e significativas na vida de uma mulher. No entanto, a transição para a maternidade pode ser desafiadora, especialmente para aquelas que também desejam continuar a desenvolver suas carreiras.

É relatado que as mulheres experimentam uma redução de 6% no salário quando se

tornam mães, enquanto os homens que se tornam pais recebem um aumento.

Ainda mais surpreendente, a diferença salarial entre as mulheres que são mães que trabalham e as que não são mães pode ser maior do que a diferença salarial entre homens e mulheres. Isso sugere que há um problema com a forma como as organizações percebem, tratam e gerenciam as mães que trabalham.

Além disso, as que trabalham sofrem preconceitos inconscientes que afetam suas oportunidades de progressão na carreira. Estes são mantidos por pessoas que conceituam o “trabalhador ideal” e a “boa mãe”.  Ou seja, o trabalhador ideal é aquele que dedica todo o seu tempo ao trabalho, respondem a e-mails rapidamente, estão disponíveis para reuniões e/ou reuniões sociais tarde da noite e estão disponíveis gratuitamente para viajar. Por outro lado, “a boa mãe” destina-se a dedicar todo o seu tempo à criação dos filhos. A crença é que, como a mãe está absorta na criação dos filhos, não é confiável no trabalho. E porque ela tem filhos, é menos provável que ela possa viajar.

Esses preconceitos podem levar os líderes a comportamentos que inibem as mães que trabalham. Isso reduz a oportunidade de elas assumirem aquele projeto especial que lhes renderia uma promoção. Em vez de fazer suposições sobre o que uma mãe trabalhadora pode ou não fazer, os líderes devem apenas perguntar diretamente.

A Lais Felipe de Castro, é colaboradora da Apsen há pouco mais de quatro meses, ela comentou comigo sobre essa percepção que o mercado tem sobre as mães que trabalham.

“O trabalho está ligado à produtividade e, a partir do momento em que essa mulher decide ou não ser mãe, haverá um questionamento se ela continuará produtiva como antes, pois o seu tempo será dividido com a chegada de um filho. Só que esse questionamento e essa cobrança só vão recair sobre as mulheres porque somos nós que assumimos o papel de cuidadoras exclusivas (ex. a que se ausenta ou se atrasa para cuidar da criança doente, levar ao médico, comparecer à escola por qualquer imprevisto etc.).  Ainda que tenhamos homens compreendendo seus papéis de corresponsáveis na criação de crianças, grande parte das mulheres ainda fazem tudo sozinhas. Então, para as coisas começarem a mudar minimamente, é preciso que os homens comecem a assumir cada vez mais as obrigações e responsabilidades que dizem respeito à criação dos filhos, para que as empresas e a sociedade comecem a enxergar que as mulheres não são menos produtivas que os homens.”

E eu acredito que, além desse papel que o homem precisa assumir, as empresas também têm papel decisivo ao mudar essa realidade.

Para isso, é essencial que compreendam que a jornada para a maternidade começa muito antes da gravidez. As organizações devem avaliar quais recursos, ferramentas e iniciativas estão fornecendo durante a jornada completa.

As organizações podem apoiar seus funcionários durante essa fase inicial da jornada de diferentes maneiras. Por exemplo, fornecer cobertura médica e/ou licença para tratamentos de infertilidade é uma maneira de as empresas ajudarem a aliviar o estresse.

Outra maneira é ter planos de carreira claros e demonstráveis que forneçam às mães esperançosas a confiança de que o dato de se tornarem mães não afetará suas oportunidades de avanço na carreira.

Durante a licença-maternidade as empresas também podem oferecer uma estrutura especial que ajude a mulher a se manter conectada com o que acontece na empresa!

Muitas mães que trabalham relatam que retornar a um local de trabalho desconhecido é um fator chave para desistir. Encontrar maneiras de manter as funcionárias em licença-maternidade conectadas ao trabalho é fundamental para apoiar uma transição bem-sucedida de volta ao trabalho. Incentivar que mentores continuem a se conectar com os funcionários durante a licença, com a intenção principal de manter o indivíduo atualizado com as mudanças e projetos especiais, pode ser uma boa alternativa.

À medida que as novas mães voltam ao trabalho, há uma série de fatores aos quais elas estão se ajustando, além de um local de trabalho evoluído. Facilite essa transição fornecendo suporte: crie espaços para amamentação e geladeiras privativas para o leite materno; estabeleça acordos de trabalho flexíveis para que mães e pais que trabalham possam sentir o equilíbrio entre suas responsabilidades familiares e profissionais; treine os gerentes para reconhecerem os preconceitos inconscientes que podem ter com as mães que trabalham e como criar um ambiente de apoio para os pais que retornam.

De volta à colaboradora Laís, ela me contou que passou por experiências negativas após ser mãe, desde se sentir coagida até ter que pedir demissão de um trabalho que não teve o mínimo de respeito por sua condição após a licença-maternidade, a ter que responder durante entrevistas de emprego questionamentos do tipo: “mas quantos anos tem sua filha?”, “Aqui a gente tem muito trabalho, a gente precisa de uma pessoa disponível, como ficaria a questão de fazer hora extra pra você?”, “Com quem ela fica?”.

“Geralmente, quando os recrutadores ficavam sabendo que eu era mãe de um bebê de um ano e meio, eu não tinha mais retorno, e isso fez com que eu omitisse minha maternidade em alguns casos. Algumas pessoas podem até falar que o mercado de trabalho estava ruim, que são muitos candidatos e os recrutadores não conseguem retornar a todos, mas esse tipo de questionamento em nada avalia minha capacidade para o trabalho, só me coloca no lugar de inadequada por ser mãe de uma criança”, revela.

Hoje, na Apsen, Laís conta que sente que existe uma flexibilidade quanto ao seu tempo de fazer as coisas.

“E digo isso porque 90% do meu trabalho é feito em home-office e eu divido meu trabalho com os cuidados da minha filha no período da manhã até ela ir à escola. Então, eu vejo que aqui existe uma compreensão de que se você precisa entregar, não importa necessariamente como ou onde; se você faz o seu trabalho e entrega o que esperam, é o que conta para a empresa. Acho que o fato de termos lideranças femininas comprometidas com as diversas pautas que englobam o universo das mulheres contribuem para o nosso avanço e melhores condições no mercado de trabalho.”

Busque seu propósito. Deixe o seu legado.
Rê Spallicci