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Carreira

Somos todos responsáveis pela ética

No momento em que o País e as empresas discutem muito a questão da ética, qual o papel das pessoas nessa mudança?

 19 de outubro de 2016
6 min de leitura



O Brasil e os brasileiros têm uma grande oportunidade de mudança. Por mais que as notícias recentes e recorrentes sobre a Lava Jato, corrupção e tantas outras mazelas possam nos dar desesperança, a verdade é que, com todos esses escândalos vindo à tona, temos uma oportunidade real de reconstruir nossos valores e nossa ética, não somente na política, mas também nas empresas e em cada um dos indivíduos.

Uma chance também para revermos atos cotidianos, como dar uma furadinha na fila, falsificar carteirinha de estudante para pagar meia, estacionar em lugar proibido só por uns minutinhos e tantos outros “jeitinhos” que nada mais são do que desvios éticos.

Não é à toa que o professor e historiador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Leandro Karnal, um dos maiores especialistas sobre o tema, faz a seguinte provocação em suas palestras. “Há um interesse coletivo sobre o tema atualmente. Mas, está faltando, além da crítica à falta de ética em Brasília e das grandes empreiteiras, que nós consigamos pensar na microfísica do poder, ou seja, na falta de ética na escola, nas famílias e nas empresas. Não existe país no mundo em que o governo seja corrupto e a população honesta e vice-versa”.

Realmente a falta de ética que vem sendo tão propagada em ambientes públicos certamente são reflexo de uma sociedade que, até bem pouco tempo, fazia vistas grossas para muitos desvios éticos e que tem, agora, a grande chance de mudança.

O filósofo Mario Sérgio Cortella, outra referencia nacional no tema também aponta a importância de todos nós revermos nossos códigos pessoais e mais do que isso, sermos verdadeiros guardiões da ética. “Quando a gente pensa na relação Estado – População, ou seja, Governo – Povo, é evidente que há uma tendência, quase que psicanalítica, de apontar o Estado, o poder público como sendo o guardião da ética. Mas é exatamente o inverso. A guarda da ética tem que ser feita pela população que escolhe o poder público. Isso significa que há um dado que passa pelo cinismo. Um cidadão ou cidadã que aponta o dedo em direção ao poder público, ao Governo de maneira em geral, ele mesmo produz infrações no campo da ética sem nenhum tipo de prejuízo para a convicção que ele carrega”, revela.

Sendo assim, o primeiro grande passo para mudança é que toda a sociedade faça um novo pacto social e refute qualquer tipo de ação que seja contra os preceitos éticos, seja no ambiente corporativo, nas famílias ou na politica.

E esse movimento vem sendo impulsionado pelas empresas, que estão, em ritmo acelerado, revendo seus códigos de ética, criando áreas e programas de compliance, enfim, trabalhando para atuarem da forma mais transparente possível.

É claro que as empresas, optando por seguirem o caminho da integridade e comprometendo-se perante seus funcionários e a sociedade, podem exercer um papel central na mudança da cultura do País.

Se as empresas forem mais éticas, conseguiremos trabalhadores mais éticos, e que disseminarão esses valores nos seus círculos privados, de familiares, amigos, vizinhos e conhecidos. Desse modo, cria-se um círculo virtuoso, e a sociedade vai mudando pouco a pouco.

Segundo o professor Clóvis de Barros Filho, outros dos grandes especialistas em ética do Brasil, o fato de as empresas reverem seus códigos de ética e suas políticas para afastarem a possibilidade de problemas é um importante início, mas só isso não resolve. É preciso uma mudança mais profunda das empresas, dos sistemas e, principalmente, das pessoas.“Eu trabalho com revisão de código de ética em várias empresas e o que noto é que a mera confecção de um documento, por mais suntuoso e coerente que possa ser, não terá adesão eficaz, se não houver um intensivo trabalho de conscientização moral aliado à participação do máximo de pessoas possível no levantamento das questões morais agravantes dentro daquele ambiente e as consequentes soluções mais adequadas. Se não houver engajamento no processo, não haverá engajamento no resultado. A questão ética nas organizações é uma questão sempre presente, sempre viva, que não pode ser sazonalizada em uma simbólica revisão de código”, alerta.

Além da revisão dos códigos de ética, as organizações vêm trabalhando também em criação de comitês para tratar do tema na empresa, além de canais de denúncia. Tudo isso para que entremos em uma nova era de mais transparência, com regras de governança mais rígidas e de acordo com a nova Lei Anticorrupção, editada em 2013.

A advogada Juliana Dias, especializada na condução de programas de compliance, acrescenta que mais do que se adaptar às novas regras, as empresas e a sociedade estão buscando alternativas para construir um País mais ético. “Temos de entender que a corrupção é um problema mundial e não devemos ter a sensação de que este é um problema somente nacional. Temos, sim, de saber que acontece, mas que não deve e não pode mais acontecer. Mas, para isso, a mudança deve partir também de cada um de nós. Afinal, por causa da corrupção temos menos investimentos em saúde, educação e outras áreas fundamentais. Além disso, a corrupção torna, inclusive, os produtos mais caros”, revela.

Que esse importante e único momento na vida do País seja realmente um indutor de mudanças e de melhoria para todos nós!Mas, para que a mudança seja realmente efetiva, precisamos todos nos comprometer com ela. Em cada atitude, em cada momento de nosso dia a dia! E você, tem feito a sua parte?

 

Busque seu propósito. Deixe seu legado.

Rê Spallicci