Qual o papel do RH para moldar as empresas do futuro?
A pandemia está influenciando profundamente as relações de trabalho. Até agora, percebemos que alguns dos legados da COVID-19 nesse aspecto foram o aumento exponencial do trabalho remoto, a realocação dinâmica de recursos e a aceleração da digitalização e automação para atender às novas necessidades individuais e organizacionais.
As empresas, em geral, conseguiram enfrentar os vários desafios deste momento de crise. Mas, quando imaginamos uma era pós-pandemia, um sistema de gestão baseado em regras e conceitos antigos não será mais eficaz. Em vez disso, será necessário ter um modelo mais flexível e responsivo, construído em torno de quatro tendências inter-relacionadas: mais conexão, automação sem precedentes, custos de transação mais baixos e mudanças demográficas.
Para criar a empresa do futuro, os diretores de Recursos Humanos e outros líderes, que são fundamentais no processo, devem reinventar os princípios básicos da companhia. Os modelos emergentes são criativos, adaptáveis e robustos. O propósito corporativo alimenta movimentos ousados de negócios. “Trabalho” torna-se “talento”. Hierarquias tornam-se redes de equipes. Os concorrentes passam a ser colaboradores do ecossistema. E as empresas, felizmente, se tornam mais humanas: inspiradoras, colaborativas e empenhadas em proporcionar aos funcionários uma experiência significativa e agradável.
A McKinsey conduziu recentemente uma pesquisa sobre como as companhias podem se organizar da melhor forma para o futuro. O estudo, ainda em andamento, sugere que as organizações mais preparadas para o novo momento compartilhem três características: elas sabem o que são e o que representam; operam com foco na velocidade e na simplicidade e crescem ao aumentar sua capacidade de aprender e inovar.
O RH pode ajudar muito a impulsionar essa transformação, facilitando uma mudança positiva nessas três áreas principais e também em outros pontos relevantes.
Identidade: RH pode esclarecer o significado de propósito, valor e cultura
As empresas que seguem um propósito têm maiores chances de criar uma significativa geração de valor em longo prazo, o que pode resultar em desempenho financeiro mais consistente, maior engajamento dos funcionários e maior confiança do cliente.
Concentre-se no propósito da organização
Qual a principal razão de sua empresa existir e onde você pode ter um impacto único e positivo na sociedade? Agora, mais do que nunca, você precisa de boas respostas para essas perguntas, pois o propósito não é uma escolha, mas uma necessidade.
Os líderes de Recursos Humanos desempenham um papel vital para garantir que a organização esteja cumprindo seu propósito e seus valores. Eles podem articular e moldar mentalidades e comportamentos individuais desejados, alinhados ao propósito, identificando “momentos importantes” na cultura da empresa e traduzindo o propósito em um conjunto de normas e comportamentos de liderança e funcionários.
O setor também pode garantir que mudanças claras sejam feitas nos processos de recrutamento e capacitação, determinando as características de um colaborador “voltado para o propósito” e incorporando esses atributos no planejamento de recrutamento, desenvolvimento e sucessão.
Também é possível incorporar métricas orientadas a propósitos nas decisões de remuneração e desempenho, que, recentemente, têm sido adotadas por empresas de todos os setores. Um exemplo disso foi implementado na Seventh Generation, fabricante de produtos de limpeza e higiene pessoal do Grupo Unilever, que incorporou em seu sistema de incentivos metas de sustentabilidade para todos os setores da companhia com o objetivo de ser uma empresa com zero desperdício até 2025. Outro exemplo é o da Shell, que tem planos de definir metas de emissões de carbono de curto prazo e vincular a remuneração dos executivos ao desempenho.
Fique atento aos talentos
As empresas que podem realocar talentos de acordo com seus planos estratégicos têm duas vezes mais chances de superar seus concorrentes. Assim, os melhores talentos devem atuar em funções críticas.
Colocar as melhores pessoas nos cargos mais importantes requer uma visão disciplinada de onde a companhia realmente cria valor e como os principais talentos contribuem. Pense no esforço da Tesla para criar uma cultura de inovação rápida ou no obsessivo foco da Apple na experiência do usuário. Essas prioridades culturais estão no centro de tudo, e as funções necessárias para transformar essas prioridades em valor estão frequentemente relacionadas à área de Planejamento e Desenvolvimento, ocupadas por pessoas talentosas e criativas.
Para permitir essa mudança, o RH deve gerenciar o talento com rigor, construindo uma capacidade analítica para contratar, desenvolver e reter os melhores funcionários.
Crie a melhor experiência possível para o funcionário
Boas experiências para os colaboradores significam melhores resultados financeiros. Organizações de sucesso trabalham ao lado de seu pessoal para criar experiências personalizadas, autênticas e motivadoras que explorem o propósito de fortalecer o desempenho individual, da equipe e da empresa.
A equipe de RH desempenha um papel crucial na formação da experiência dos funcionários. Organizações nas quais o departamento de Recursos Humanos proporciona uma experiência positiva para os funcionários têm probabilidade 1,3 maior de relatar um desempenho organizacional superior, segundo a pesquisa da McKinsey. Isso se tornou ainda mais visível durante a pandemia, momento em que as organizações trabalham para manter o bem-estar emocional das equipes.
Fortalecer a liderança e construir capacidade para a mudança
A cultura é a base sobre a qual se constrói um desempenho financeiro excepcional. A mudança de cultura deve ser conduzida de maneira clara pelos líderes da organização.
Adote novos modelos organizacionais
Para ter sucesso, uma transformação deve atingir todas as facetas de uma organização – pessoas, processos, estratégia, estrutura e tecnologia. O RH pode ajudar a criar uma abordagem interativa, desenvolvendo elementos centrais do processo de gestão de pessoas, incluindo novos planos de carreira para equipes ágeis, gestão de desempenho renovada e capacitação.
Crie uma força de trabalho flexível
Como muitas funções estão mudando, o trabalho será cada vez mais definido pelas habilidades. Para sobreviver e cumprir seus objetivos estratégicos, todas as organizações precisarão ampliar a qualificação de partes significativas de sua força de trabalho nos próximos dez anos.
De acordo com uma pesquisa da McKinsey de 2018, 66% dos executivos disseram que abordar as lacunas de habilidades potenciais relacionadas à automação e digitalização em suas equipes era pelo menos uma prioridade entre dez. O RH deve ajudar a priorizar essas mudanças de talentos, agindo como um parceiro estratégico para a empresa, garantindo que o talento certo esteja disponível para cumprir os objetivos centrais da organização. O setor também pode orientar o planejamento da força de trabalho, revisando como as tendências disruptivas afetam os funcionários, identificando as futuras capacidades necessárias e avaliando como a oferta e a demanda se aplicam às lacunas de habilidades futuras.
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Busque seu propósito. Deixe o seu legado.
Rê Spallicci