Saiba o que torna os alimentos orgânicos mais saudáveis e conheça uma alternativa para comprá-los com preços mais baixos em um novo modelo de economia proposto no Instituto Chão.
Cada vez mais preocupados com a qualidade daquilo que consumimos, a busca por produtos orgânicos vem aumentando consideravelmente, em todo o mundo e principalmente no Brasil.
Segundo o Projeto Organics Brasil, o setor cresce no país de 30% a 40%, em média, por ano. Apesar de o número refletir os poucos dados históricos do segmento, a porcentagem é animadora, uma vez que o crescimento mundial não passa de 10%.
Em um país que ostenta o péssimo título de maior consumidor de agrotóxico do mundo, a expansão do mercado de orgânicos demonstra o aumento da consciência de um consumidor mais exigente com o que coloca no prato.
Afinal o motivo pela procura pelos orgânicos é bastante claro. Eles são mais saborosos, sua produção respeita o meio ambiente, evitando a contaminação de solo, água e vegetação e usa sistemas de responsabilidade social, principalmente na valorização da mão-de-obra.
Por definição os produtos orgânicos são aqueles que utilizam, em todos seus processos de produção, técnicas que respeitam o meio ambiente e visam à qualidade do alimento. Desta forma, não são usados agrotóxicos nem qualquer outro tipo de produto que possa vir a causar algum dano à saúde dos consumidores.
Um novo segmento de consumidores
Nos Estados Unidos os consumidores deste mercado de alimentação saudável já receberam uma nova classificação. Eles são chamados de LOHAS (Lifestyles of Health and Sustainability) e movimentam um mercado estimado de 290 bilhões de dólares.
Segundo pesquisas, de 13 a 19% dos adultos nos EUA são atualmente considerados LOHAS consumidores.
A pesquisa mostra que um em cada quatro adultos americanos faz parte deste grupo de quase 41 milhões de pessoas. Esses consumidores são o futuro do seu negócio e também o futuro de mudança social, ambiental e económica progressiva tanto nos Estados Unidos como no mundo. Eles buscam por produtos e um estilo de vida saudável e estão até mesmo dispostos a pagar um pouco mais por isso.
Benefícios para a saúde
Apesar de um recente estudo da Universidade Stanford, coordenado pela médica Dena Bravata, ter concluído que não há nenhuma diferença entre os orgânicos e os demais produtos na questão nutricional, a busca por orgânicos vai além dos valores dos nutrientes.
Segundo a nutricionista especializada em nutrição funcional, Andrea Bellotto, a diferença não está nos nutrientes, mas na não ingestão de agrotóxicos. “A vantagem de se consumir orgânico é a redução na incidência de câncer e de outras doenças, visto o alto consumo indireto de antibiótico e substâncias químicas dos produtos não orgânicos. Mas é claro que os alimentos orgânicos precisam ser bem lavados, pois pode haver contaminação por salmonela e e.coli.”
O perigo dos pesticidas
Embora a pesquisa de Stanford não aponte diferenças nutricionais significativas, ela mostrou também que, nos alimentos orgânicos, há 30% menos risco de contaminação por pesticidas.
Um motivo a mais para o consumidor brasileiro preferir os orgânicos, uma vez que o desrespeito aos limites legais para uso de produtos químicos é frequente. Desde 2002, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) faz análises anuais de resíduos de agrotóxicos em alimentos e, ano após ano, encontra inúmeras substâncias vetadas, ou o uso das permitidas acima dos patamares considerados seguros. Na última análise, por exemplo, mais de 90% das amostras de pimentão estavam fora das normas da Anvisa. No balanço geral, das 2.488 amostras coletadas, 28% estavam insatisfatórias.
Por isso, Andréa Bellotto recomenda, sim, o uso dos orgânicos, sempre que possível. “No meu ponto de vista um alimento orgânico não é um alimento salvador. O alimento é o nosso combustível, quanto melhor a qualidade e a quantidade, melhor rendimento você terá. O ideal seria consumir o orgânico, porém devido ao alto custo nem tudo é possível. Podemos associar alimentos da época, que precisam de menos agrotóxico para se desenvolver, uma alimentação variada, fracionada, levando em conta o valor funcional do alimento e, quando possível, orgânico, principalmente se tratando de morango, milho, pimentão, pepino, alface, soja, cenoura, abacaxi, beterraba, mamão que são os alimentos mais contaminados”, analisa.
Uma opção aos altos preços
Sempre que pensamos em orgânicos, pensamos também em valores mais caros. Pela forma como são produzidos, acarretam em mais custos e, consequentemente, preços mais salgados para o consumidor.
E embora pesquisas apontem que o consumidor do perfil LOHAS aceite pagar um pouco mais pela qualidade do produto e por saber que está consumindo produtos mais saudáveis, alternativas aos preços altos vem surgindo. Uma delas apareceu em São Paulo trazendo uma nova visão para a forma como pensamos a economia.
Trata-se do Instituto Chão, uma associação que criou uma feira de orgânicos, na qual você compra diretamente do produtor, eliminando os custos de intermediários. “O Instituto Chão é uma associação sem fins lucrativos que se movimenta para o aprofundamento da consciência crítica, da democracia e da igualdade de direitos, a fim de construir coletivamente uma sociedade que permita a cada um exercer sua liberdade. O grande diferencial do nosso modelo de fazer negócios é a transparência, horizontalidade e a construção coletiva de todos os processos envolvidos nessa lógica”, explica Agatha Fernandes, uma das nove associadas do projeto.
O Instituto Chão foi projetado para ser um espaço de convivência, trabalho e reflexão, onde se fomente a discussão dos valores e objetivos da instituição, além de encaminhar ações conjuntas que promovam a sustentabilidade econômica, social e ambiental. E foi nesse sentido que surgiu a feira de orgânicos. “A feira tem sido o grande destaque de nosso projeto, justamente porque pensamos em trabalhar com os produtores que já são historicamente mais explorados e menos remunerados”, explica Agatha. Segundo ela, nos grandes varejistas, os produtores recebem pouco, geralmente em consignação, e ainda têm de arcar com as sobras e perdas.
No Instituto Chão, os preços são compostos de forma a privilegiar os produtores e possibilitar preços mais justos aos consumidores. Para isso, o Instituto não cobra nenhuma porcentagem das vendas e vive única e exclusivamente das doações das pessoas que acreditam no projeto.
“Estamos funcionando desde o início de junho de 2015. Nesse período, conseguimos pagar quase integralmente todos os custos, somente com a contribuição voluntária das pessoas que consomem nessa lógica. Esses consumidores, além de realizarem as suas compras, buscam relações econômicas e sociais mais justas e democráticas”, analisa Agatha.
Para os associados do Instituto Chão a questão econômica brasileira é o grande nó a ser desatado. “Consideramos que quanto mais livre o outro for, mais todos seremos. Isso é a essência do nosso trabalho no Chão. E umas das frentes desse projeto também é promover e ajudar outras pessoas a construírem espaços com essa lógica. Os valores culturais que colocam o acúmulo de capital como a materialização da liberdade individual ignoram que a desigualdade social que isso acarreta é a grande barreira para uma sociedade realmente democrática. Essa inversão de valores sustenta um sistema no qual o capital é fim em si mesmo e perpetua a progressiva centralização do poder e a utilização irracional dos recursos naturais, impossibilitando mudanças em direção a uma sociedade livre. E sem dúvida, as pessoas já estão procurando novas formas de se organizarem, diante desse modelo”, revela Agatha.
Para quem acredita que o consumo de orgânicos deve ir além da questão nutricional e de saúde, mas também levar em conta aspectos sociais, o Instituto Chão realmente se coloca como uma importante alternativa.
Se quiser conhecer o Instituto Chão, ele está localizado à Rua Harmonia, 123, Vila Madalena, e a Feira de Orgânicos acontece de terça a sábado das 8:30 às 14 horas.
Confira também outras matérias sobre consumo consciente e opções de alimentação saudável:
Feiras de troca de roupas e brechó dão nova cara ao consumo consciente
Conheça as principais dietas e escolha a melhor para você
Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci