Saiba mais sobre a ativista e escritora nigeriana que vem encantando o mundo com suas palestras sobre questões de gênero e raça.
Vocês conhecem Chimamanda Ngozi Adichie? Não? Então, para tudo, porque você precisa conhecê-la! Eu tenho lido muito sobre a romancista e ativista feminista, nascida na Nigéria, hoje radicada nos Estados Unidos, e aprendido demais com ela! E, hoje, quero compartilhar com vocês um pouco da história e dos pensamentos dela! Vamos lá?
Da Nigéria para os Estados Unidos
Chimamanda Ngozi Adichie nasceu em 1977, em uma família Igbo de classe média em Enugu, na Nigéria. Sua mãe se tornou uma das primeiras funcionárias da Universidade da Nigéria, enquanto o pai era professor de estatística na mesma instituição. A quinta de seis filhos, ela viveu o que descreve como uma infância muito feliz, cheia de risos e amor, em uma família muito unida.
Pressionado por expectativas sociais e familiares, Adichie “fez o que deveria fazer” e começou a estudar Medicina na Universidade da Nigéria. Depois de um ano e meio, ela decidiu seguir suas ambições como escritora, abandonou a faculdade de Medicina e conseguiu uma bolsa para estudar Comunicação nos Estados Unidos.
Chegando aos EUA, um novo mundo se abriu para Adichie. “Deixar a Nigéria me deixou muito mais consciente de ser nigeriana e o que isso significava. Também me fez ciente da raça como um conceito, porque eu não me considerava negra até que saí da Nigéria”, comenta.
Desde o seu primeiro dia, ela começou a se incomodar com as generalizações raciais e passou a pensar em um modo de mudar esta realidade.
As palestras que rodaram o mundo
E foi por meio de uma palestra de 2009 no TED, “O perigo de uma única história”, que a escritora passou a protagonizar uma brilhante discussão sobre raça, mas que tem seu argumento facilmente aplicável em contextos muito mais amplos. Segundo ela, tudo começou por causa da maneira como sua companheira de quarto na universidade a enxergava, cheia de história pré-concebidas e generalizações: “Nesta única história que ela contava a si mesma sobre mim, não havia possibilidade de africanos serem parecidos com ela de nenhum modo, e tudo o que ela podia sentir por nós era piedade. Não, nenhuma possibilidade de conexão, enxergando todos como humanos e iguais”, refletiu.
Nessa palestra, sua discussão sobre as percepções dos EUA e principalmente sobre os mexicanos como o “imigrante abjeto”, durante o início dos anos 2000, poderia facilmente ser transferida à histeria atual sobre refugiados sírios que entram na Europa.
“A história única cria estereótipos, e o problema dos estereótipos não é que eles são falsos e incompletos. Eles fazem uma história se tornar a única história.”
A carreira de escritora
Quando fez a palestra mencionada, e que lhe deu uma maior visibilidade mundial, Adichie já havia lançado dois romances, concentrados basicamente na cultura nigeriana contemporânea, sua turbulência política e, às vezes, como ela pode se cruzar com o Ocidente. Ela publicou Hibisco Roxo, em 2003, e Meio Sol Amarelo, em 2006.
Embora seus romances e escritos mais amplos fossem a melhor janela para a imaginação incisiva e emotiva de Adichie, foram suas palestras impressionantes que chegaram ao cerne do que ela defende: raça e gênero, e nossa tendência a aceitar o que somos ensinados sem reconhecer o preconceito arraigado.
Em 2013, Archie lançou seu terceiro romance, Americanah, e novamente surpreendeu o mundo com outra palestra no TED: “Todos devemos ser feministas”, em que discute os paradigmas prejudiciais da feminilidade e masculinidade.
Foi a partir daí que ela passou a ser uma referência na luta contra a discriminação sexual. Seu lema “Todos devemos ser feministas” inspirou celebridades como Beyoncé e acabou estampado em camisetas da Dior.”Nós ensinamos as meninas a se encolherem, a se tornarem menores. Dizemos às meninas: ‘Você pode ter ambição, mas não muita. Você deve ter o objetivo de ser bem-sucedida, mas não muito bem sucedida, caso contrário, você ameaçaria o homem.’”
O feminismo prático e plural de Chimamanda Ngozi Adichie
Adichie argumenta que o feminismo não deve ficar restrito a um “pequeno culto de elite”, mas que deve ser algo plural com diversos feminismos cujo principal objetivo é que mudemos nossa forma de enxergar o mundo, quebrando modelos mentais preestabelecidos. “Estamos tentando desaprender o que aprendemos inconscientemente e, simultaneamente, descobrindo novas formas de ver. Histórias importam. Muitas histórias são importantes. Histórias têm sido usadas para desapropriar e difamar, mas histórias também podem ser usadas para capacitar e humanizar. As histórias podem quebrar a dignidade de um povo, mas as histórias também podem reparar essa dignidade quebrada.”
O sucesso da palestra foi tamanho que se converteu em livro que, recentemente, teve uma continuação: Para Educar Crianças Feministas, um livro-carta dirigido a uma amiga que lhe perguntou como mostrar à filha os valores feministas.
Entre as várias atitudes que defende para um mundo mais igualitário, Archie acredita que devemos parar de olhar as mulheres de forma moralizante e puritana. “Se uma mulher mostra parte de seu corpo, seus seios, por exemplo, se diz que não pode ser feminista porque está cedendo a um olhar masculino. E me pergunto: ‘Sério? Mas adoro meus seios!’ Por que não fazemos isso com os homens? Não funciona. Até em sociedades que se consideram progressistas há o mesmo. Não lhe pedem que se cubra, mas dizem de outras maneiras que seu corpo não é realmente seu. Finalmente, o que somos? Somos corpos. E no caso das mulheres, existe a pressão de serem corpos somente para a reprodução.”
Bom, é isso! Espero que tenham curtido e tenho certeza de que muitas de vocês, assim como eu, se identifica nos pontos referidos e discutidos por Chimamanda. Eu mesma sempre fui vítima dos estereótipos, e ter quebrado esta “corrente” em minha vida foi um processo libertador. Por que uma executiva não pode ser uma atleta de fisiculturismo? Por que tenho que privar de mostrar o meu corpo, se acho tão bonito o trabalho de delineá-lo e trabalhá-lo? Enfim, perguntas que sempre me fiz e que mostram o quanto nós, mulheres, somos criadas e acostumadas a sempre pautar nossos sonhos pelo que os outros acham, ou pelo que a sociedade nos impõe. Que mais vozes como a de Chimamanda ganhem o mundo!
Ah, e se quiserem assistir às palestras dela, o que recomendo fortemente, você pode encontrá-las aqui:
O perigo de uma única história
Nos deveríamos ser todos feministas
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Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci