No ano em que apresentadora completaria 90 anos, minha homenagem a esta mulher incrível, pioneira e autêntica
Eu sou uma apaixonada pelos palcos e pela televisão. E acredito que muito desta minha paixão se deva à Hebe Camargo! Lembro-me de assistir ao programa Hebe, ao lado de minha mãe, quando eu era criança, e me deslumbrar com aquela mulher simples, forte, com roupas, maquiagem, cabelos e joias nada discretas.
Neste ano em que a atriz, cantora e apresentadora completaria 90 anos, muitas homenagens merecidas estão sendo realizadas. Uma exposição acontece no Farol Santander, em São Paulo, um filme sobre sua vida tem previsão de estreia em 15 de agosto, e o livro de sua biografia, Hebe, de Artur Xexéo continua em destaques nas livrarias, mesmo dois anos após o seu lançamento.
Como estou lendo a biografia dela neste momento, me recordei do quanto Hebe marcou a minha vida. Então, resolvi falar um pouco mais dessa mulher que abriu caminhos na televisão brasileira, com um estilo único e inconfundível.
Minha primeira inspiração
Quando eu era criança e adolescente, morava em um condomínio no Morumbi, chamado Portal do Morumbi. E não sei exatamente por que, ele tinha uma presença bastante significativa de estrangeiros. Com isso, eu tomei contato com alguns hábitos de outras culturas não comuns ao Brasil. E um desses hábitos eram as “vendas de garagem” (adaptadas para os apartamentos, claro) dos americanos.
Como eu acho que boa parte dos americanos que morava lá vinha a trabalho por um período estabelecido e depois voltava para seu país natal, quase sempre havia uma “Família Vende-Tudo” no condomínio.
Em uma dessas vendas, minha mãe comprou uma filmadora VHS! Wow, era algo que ninguém tinha aqui no Brasil, o máximo da tecnologia (e pensar que hoje temos câmeras 4k no celular, rs)…
Logo o equipamento se tornou meu brinquedo favorito. Eu e minha querida amiga de infância, Carolina Camillo, passávamos horas gravando nossos programas de entrevista. E quem era minha grande inspiração? Sim, ela, Hebe Camargo!
Em um tempo dominado pelos homens, no Jornal Nacional não havia apresentadoras mulheres, programas de auditório também eram quase sempre comandados por apresentadores masculinos. Portanto, ela era a nossa diva e representante feminina!
E imaginar que seu primeiro programa como apresentadora aconteceu em 1955, apenas cinco anos após o início das TV no Brasil! Uma pioneira!
Uma mulher que quebrou preconceitos, que não tinha medo de falar o que pensava e que imprimia sua personalidade sem se preocupar com o que os outros iam falar.
Mulheres como Hebe quebram regras, sem perceber que o fazem! Quebram não com o objetivo “de lacrar” ou de “chocar”, mas simplesmente por serem como são.
Hoje, estou estudando mais televisão para aprimorar meu trabalho como apresentadora. E uma das lições – a número um que aprendemos- é que devemos usar roupas mais discretas, não usar acessórios muito chamativos, porque isso rouba a atenção do telespectador… a-ham! Falem isso para a Hebe! Rs… A mulher desfilava joias enormes, roupas extravagantes, mas quem roubava a atenção era o seu carisma, simpatia e simplicidade!
Sempre pioneira
Nascida em 8 de março de 1929, em Taubaté, interior de São Paulo, Hebe começou a carreira na década de 1940, na Rádio Tupi, como cantora. Aos 11 anos de idade, formava, ao lado da irmã Stella, a dupla caipira Rosalinda e Florisbela. O sonho delas era fazer sucesso na rádio. Anos depois, formaram o quarteto Dó-Ré-Mi-Fá, contratado pela rádio Tupi. (que graxinha, rs)
Em 1950, ela foi convidada por Assis Chateaubriand para participar da primeira transmissão ao vivo da televisão brasileira. Cinco anos depois, Hebe estreou o primeiro programa feminino da TV nacional.
De 1955 até o ano de sua morte, 2012, a apresentadora praticamente não saiu do ar. E conseguiu feitos enormes! Em 1969, Hebe entrevistou Louis Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, apenas três meses depois de sua viagem histórica. Hebe dublou personagem em filme da Disney, foi quase sempre líder de audiência das emissoras pelas quais passou ( TV Record, Rede Bandeirantes, Rede TV e o SBT, onde ficou maior parte da sua carreira) e se consolidou como uma das maiores figuras da TV Brasileira.
Em 1956, um ano após seu primeiro programa entrar no ar, Hebe já recebera o troféu Roquette Pinto (o mais importante da época) como melhor apresentadora. E repetiu a façanha mais 11 vezes nos 15 anos seguintes em que a premiação aconteceu.
Em 1987, no programa “Roda Viva” da TV Cultura, um programa marcado sempre pelo embate duro dos jornalistas com o entrevistado, conseguiu que os jornalistas escalados para fuzilá-la a aplaudissem unanimemente ao final da entrevista, fato inédito no programa.
Respeito ao público
Uma das muitas coisas que me marcou em Hebe foi uma declaração que ela deu em uma de suas últimas entrevistas. Ostentando um salto enorme e já doente, ela foi perguntada por que estava de salto. E a resposta dela foi mais ou menos assim: “Em respeito ao meu público que se acostumou a me ver assim”.
Em tempos de redes sociais, onde nós nos expomos muito mais do que as figuras públicas do passado, ser espontâneo, natural e despojado certamente é uma máxima. Mas sabia que, muitas vezes, eu me arrumo mais, por me lembrar das palavras da Hebe! Penso nisso quando vou fotografar, quando vou a um evento, quando vou dar uma palestra. Gosto de me arrumar para que as pessoas que me seguem percebam que elas merecem o meu respeito e sempre o melhor de mim!
Eu fui uma mulher formada por mulheres fortes. Minha mãe, minhas avós me ensinaram a ser independente, batalhadora e autêntica sempre. E acho que posso dizer, sem medo de errar, que Hebe Camargo também participou um pouquinho dessa minha formação! Afinal, de onde vocês acham que veio meu amor por tanto brilho e flashs?? Haha
Ah, e se quiserem saber mais sobre esta mulher incrível, vejam a mostra Hebe Eterna que vai até o dia 20 de junho. Lá estão vestidos, peças pessoais e muito sobre ela! Eu ainda não fui, mas certamente não vou perder por nada!
À Hebe Camargo, minha mais profunda gratidão por abrir portas, quebrar barreiras e possibilitar que hoje nós, mulheres, tenhamos muito mais espaço! E gratidão por me inspirar tantas e tantas vezes. Para terminar, nada melhor do que seu tradicional selinho… smack! Você é linda de viver!
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Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci