Será que ainda falta muito para alcançarmos a igualdade? O que podemos fazer em nosso dia a dia para chegar lá?!
Como vocês sabem, eu sou uma defensora incansável do papel das mulheres no mercado de trabalho e acredito que temos de nos preparar cada vez mais para ocupar o nosso espaço nas empresas, nos órgãos públicos, na política e na sociedade.
E, por hoje ser o Dia do Trabalho, nada melhor do que aproveitarmos a data para falar sobre o mercado, mas com um corte específico para o lado feminino.
Preconceito vem de berço
Mas você deve estar se perguntando: por que falar especificamente sobre mulheres? Porque, infelizmente, o mercado de trabalho não é o mesmo para homens e mulheres! Eu, como executiva, sei bem os preconceitos e dificuldades que tive de driblar para chegar a um cargo diretivo! Ser executiva e competir como fisiculturista, então?? Mais preconceito!
E não sou só eu que estou dizendo isto, né!? A mais recente pesquisa realizada pelo IBGE sobre o tema registrou um aumento da presença feminina em vagas de trabalho formal. No Brasil, o público feminino atingiu 43% de participação, enquanto 57% ficaram com os homens. Apesar do crescimento, a diferença salarial ainda é expressiva. Segundo os dados coletados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), em 2015, o salário de uma mulher formada com MBA era 34% menor comparado ao de um homem nas mesmas condições. Quanto maior o grau de instrução, maior é a diferença. Pode isto? Ou seja, sabe aquele papo de estudar mais para galgar melhores posições e salários? Então, infelizmente, para nós, mulheres, isto nem sempre é uma realidade.
E a verdade é que essa diferença nas empresas reflete a nossa sociedade! Desde que nascemos, vieram com este papo de coisa de menina e coisa de menino. E somos levados a acreditar que nem tudo é para todos e que homens e mulheres têm funções diferentes e predefinidas que não podem ser modificadas.
Faça um passeio por qualquer loja de brinquedos para você ver! Para as meninas, há um mundo cor-de-rosa, repleto de bonecas, utensílios domésticos e estéticos. Para os garotos, carrinhos, super-heróis e jogos de raciocínio. Pode parecer bobeira, mas aí já começa a se formar na cabeça dos futuros adultos qual será o papel de homens e mulheres na sociedade – o que se reflete na vida pessoal, nos estudos e, consequentemente, no mercado de trabalho.
Daí não é difícil imaginar por que atributos como ambição, coragem, tomada de decisão e força são sempre atribuídos aos homens, empatia, acolhimento e sensibilidade, às mulheres. A questão é que todas essas características são intrínsecas aos seres humanos, e não a um gênero ou outro! Mas como somos desde sempre preparados para separar o mundo em coisas de meninos e meninas, os cargos mais elevados nas empresas, e que precisam de doses mais altas de características atribuídas aos homens, acabam sempre sendo ocupados por eles!
Querem ver só? No mundo inteiro, apenas 9 em cada 100 mulheres chegam ao cargo de CEO. Nas empresas brasileiras, as mulheres ocupam 6% de todos os cargos executivos disponíveis.
Como mudar este quadro
Uma das executivas mais poderosas do mundo, Sheryl Sandberg,COO do Facebook, fala sempre em suas palestras algo que considero essencial para que possamos começar a promover mudanças: de que está na hora de nós sentarmos à mesa para as discussões e não somente ficarmos ao lado, esperando as decisões masculinas!
Temos que buscar nosso espaço, nos impor, criar um pensamento feminino, uma liderança feminina e não simplesmente nos adaptar aos padrões criados pelos homens há séculos e séculos. Ela fala também que nós, mulheres, temos algo como uma espécie de complexo de vira-latas feminino, que nos impede de alcançar postos mais altos e nos deixa encurraladas entre sucesso profissional e realização pessoal. Ou seja, para nós, mulheres, ainda tem que ser uma coisa ou outra, embora ambas as realizações possam (e devam) andar juntas!
Eu acredito realmente que estamos vivendo um momento de ajustes e que o mercado de trabalho vai se adaptar às demandas femininas, mas, para que isso ocorra, precisamos continuar nossas lutas.
O que me deixa muito feliz é ver que já existem algumas iniciativas bem legais nesse sentido.
A agência de publicidade Heads é um exemplo. Ela é a primeira da América Latina a assinar os Princípios de Empoderamento das Mulheres, da ONU Mulheres. Na época da assinatura, foram realizadas apresentações sobre as intenções da agência com esse movimento e de que forma se levaria o tema para o dia a dia da agência e para os seus clientes.
Ira Finkelstein, VP de Estratégia da Heads Propaganda, é a responsável pelo tema na agência e me contou que hoje a maioria dos cargos de diretoria e gestão da empresa são representados por mulheres. “Além disso, temos o projeto TODXS por elas, uma profunda análise da representatividade de gênero e raça na publicidade brasileira. Os aprendizados desses três anos de projeto, somados aos inúmeros fóruns e parcerias que desenvolvemos, resultaram em duas palestras que já foram proferidas em quase 100 empresas e em diversas Universidades. Além disso, nossos times internos participam desenvolvendo as campanhas publicitárias para ONU Mulheres. Entendemos que elevar a responsabilidade da comunicação em mudar essa realidade é uma valiosa contribuição para chegarmos a um planeta 50-50 em 2030.”
Sim! É isso mesmo! A mudança passa muito por educação e conscientização de jovens e adultos, algo com que a Ira também concorda! “A única maneira é conscientizar não só as lideranças, mas todos os níveis hierárquicos, promovendo um diálogo aberto sobre a questão com palestras e debates. Um indivíduo precisa se sentir na pele do outro para entender que precisa mudar suas atitudes. Muitos agem no automático em resposta a sua agenda cultural e exemplos de vida, sem mesmo parar para pensar sobre a situação. Ao se depararem com casos e fatos reais, tomam consciência da existência dos sentimentos alheios e começam a reprocessar suas ideias.”
Ainda segundo a diretora da Heads, a mudança só vai realmente acontecer quando as empresas começarem a contratar mulheres para cargos de direção em todas as áreas. “Mesmo que seja, a princípio, a partir de um tipo de sistema de cotas ou de algum indicador estabelecido. Além disso, é preciso elevar efetivamente o número de mulheres no Board e no Conselho das Agências. Quando conseguirmos diminuir a desigualdade no topo da pirâmide, aí sim, essa mudança começará a acontecer mais rapidamente, puxada pela vivência dessas mulheres diante das barreiras que enfrentarem durante sua trajetória de carreira e por sua capacidade de articulação perante seus colegas de time.”
O que podemos fazer
A mudança está ao nosso alcance e temos todos que trabalhar juntos para isso! Nas escolas, universidades, empresas e famílias, por meio da educação, com muito diálogo e, principalmente, vontade de transformar nossa realidade.
Nas empresas, precisamos ampliar a concepção de liderança, entendendo que os atributos ditos femininos, como sensibilidade, flexibilidade, intuição, capacidade de trabalhar em equipe e administrar a adversidade, são fundamentais para gerir e liderar equipes e trazer bons resultados para a empresa, qualquer que seja o ramo de atividade.
Temos que parar, de uma vez por todas, de insinuar, sempre que uma mulher chega a um cargo de chefia, que ela usou o seu poder de sedução ou seus atributos físicos, quando o que deveríamos enaltecer é a qualificação do profissional, independentemente do gênero.
E principalmente mudar nosso comportamento em casa! Este talvez seja o ponto mais fácil de colocar em prática, porque só depende da boa vontade dos homens em compartilhar as tarefas com as mulheres. Quando a responsabilidade por cuidar da casa for de todos que moram nela, sejam homens, mulheres, idosos ou crianças, e entenderem que devem fazer a sua parte para manter a casa limpa e organizada, a mulher poderá se dedicar à carreira com mais tranquilidade, e a tão sonhada igualdade pode ser um sonho cada vez mais próximo.
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Rê Spallicci