Como se dá a participação da mulher na política brasileira e as expectativas para as eleições 2018
Estamos a pouco mais de uma semana das eleições. No dia 7 de outubro, escolheremos deputados estaduais, federais, senadores, governadores e presidente. E, por mais que a classe política esteja sendo vista com muita desconfiança em nosso País (não sem motivos, diga-se de passagem), não podemos negar a importância da política para o nosso dia a dia, seja pela necessidade de se legislarem novas leis ou de planejar e executar políticas públicas.
E, como vocês sabem, aqui no meu blog eu mantenho a seção Protagonistas, que tem por objetivo dar voz às mulheres e também discutir temas que sejam relevantes para a nossa luta pela igualdade de gêneros. É claro que a representatividade política é algo essencial neste cenário e, por isso, hoje e na próxima semana, trarei artigos sobre a mulher no nosso cenário eleitoral. Hoje, quero falar sobre a mulher como candidata e política e, na outra matéria, abordarei a mulher como eleitora! Vamos lá?
Um dos piores no mundo!
Há um fato que ilustra bem como a mulher é considerada no ambiente político brasileiro. O Senado Federal do Brasil começou a funcionar em 1826. O primeiro banheiro feminino adjacente ao Plenário do Senado Federal do Brasil foi inaugurado em 2016.
Pode parecer bobagem, mas isso mostra o quanto a mulher é pouco representada no legislativo e no executivo brasileiros. Segundo dados compilados pela Inter-Parliamentary Union – uma associação dos legislativos nacionais de todo o mundo – no Brasil, pouco mais de 10% dos deputados federais são mulheres. Ocupamos o 154º lugar entre 193 países do ranking elaborado pela associação, à frente apenas de alguns países árabes, do Oriente Médio e de ilhas polinésias.
Para tentar diminuir essas desigualdades, em 2009, uma lei obrigou os partidos a destinarem pelo menos 30% de suas candidaturas às mulheres. Mas, infelizmente, o que se viu foram partidos com “candidatas-laranja”, utilizadas apenas para cumprir cotas, e que não gozavam de nenhum esforço ou investimento partidário. Para lidar com isso, em 2018 a lei mudou e, além de obrigar a cota de participação de 30% nos partidos, exige que eles deem condições competitivas às suas candidatas, obrigando-os a destinar também 30% dos recursos financeiros às mulheres.
Investimento e preparo
Segundo Bruno Carazza dos Santos, do site Politize-se, o nível de participação de mulheres no Poder Legislativo é um indicador confiável do grau de amadurecimento das democracias: quanto mais postos o sexo feminino conquista na cúpula do governo, mais igualitário tende a ser aquele país – ou, pelo menos, os governos se mostram mais preocupados em reduzir as diferenças entre homens e mulheres.
“Mas isso se dá não apenas por uma questão de poder. Fazer política demanda tempo e dinheiro e, se há um equilíbrio entre homens e mulheres no parlamento, isso significa que ele também se reflete no ambiente doméstico e no setor privado. Em outras palavras, sociedades com grande participação feminina no Congresso são, em geral, países em que as mulheres conseguem equilibrar sua vida profissional e pessoal de forma a ainda conseguir tempo para fazer política e, o que é mais importante, fazer suas ideias serem ouvidas e aceitas pelos demais cidadãos.”
Michelle Guimaraes, candidata a deputada Federal pelo PR, no Amazonas, é um exemplo do quanto entrar para a vida pública de forma séria e consciente necessita de investimento. Após ver de perto sua mãe, vítima de câncer de mama, sofrer no atendimento público de saúde, ela resolveu entrar na política e, nos últimos dois anos, se prepara para este objetivo. “Fiz cursos nos Estados Unidos, em Oxford, na Inglaterra e em São Paulo sobre política pública e me preparei para poder entrar neste meio”, revela. Mas, mesmo sendo altamente preparada, ela conta que o ambiente partidário não é fácil para uma mulher. “As mulheres são convidadas para base de apoio, mas nunca lideranças. Temos que nos provar o tempo todo, ter uma postura firme, forte e segura para mostrarmos que podemos, sim, sermos protagonistas”, defende.
Aline Torres, também candidata a deputada federal pelo PSDB, em São Paulo, começou sua vida pública em movimentos de defesa dos afrodescendentes e foi uma participante ativa na questão das cotas em universidades públicas. Aos 20 e poucos anos entrou para o PSDB. Formada em relações públicas e especializada em gestão de projetos culturais e organização de eventos, trabalhou em órgãos públicos nessas áreas – em Viradas Culturais Paulistanas e Esportivas. Em 2015, cuidou da Coordenadoria do ProAC, programa paulista de fomento à cultura, por meio de renúncias fiscais e patrocínios, e foi Diretora do Centro Cultural da Juventude, na gestão de João Dória. Agora, aos 32 anos, quer ser a primeira candidata negra a ser eleita pelo partido. Mas, apesar de sua trajetória, conseguir um espaço na legenda não foi tarefa fácil. “Os globais querem sair candidatos pelo PSDB. Foi uma briga. No primeiro momento, eles não entenderam”, relembra. Mas ela soube jogar: lembrou ao partido que nunca haviam lançado uma mulher negra ao Congresso. O partido repensou… E Aline venceu a disputa.
Defensora das cotas nas universidades e também nas eleições, ela acredita que os partidos precisam investir na formação de candidatas. “É preciso que as mulheres ocupem lugares nos partidos, para que tenhamos candidatas realmente preparadas”, complementa.
Um longo caminho
Apesar das dificuldades, é inegável que a mulher e os temas feministas ganharam um papel relevante nestas eleições. Notem que nas principais candidaturas à presidência, quatro delas têm mulheres como vice-presidentes nas chapas. Pode parecer pouco sermos só relegadas ao cargo de vice, e realmente é, mas, se pensarmos que nosso País, desde a proclamação da República, teve 35 presidentes e somente um deles foi uma mulher, percebemos o quanto temos de caminhar.
Para Ligia Morais, pós-graduanda em Marketing Político e Propaganda Eleitoral pela USP, que trabalha na área de Relações Institucionais do Movimento Agora!, associação civil de renovação política e construção de propostas de políticas públicas para o País, pode parecer óbvio, mas “para eleger mais mulheres, é preciso eleger mais mulheres”. Ela explica: “um estudo da FGV mostrou que em cidades nas quais prefeitas já tinham sido eleitas, por exemplo, o voto em candidatas mulheres aumentou. Isso mostra que o sucesso de futuras candidatas pode estar, sim, relacionado à ocupação dos espaços de poder por outras mulheres. Por isso é que, num primeiro momento, precisamos de ajuda do Estado para sanar essas desigualdades iniciais (com medidas como a exigência dos 30%, de cargos e de financiamento). Uma boa medida também seria que os partidos indicassem mais mulheres especialistas e técnicas para secretarias em estados e municípios, para que elas pudessem ter trajetórias e oportunidades similares às dos homens, dentro da política. Assim, todos sairiam de um mesmo ponto de partida.”
Enquanto este dia não chega, o que podemos fazer como mulheres é buscar elegermos mulheres para tentar reverter este quadro! E é sobre o nosso papel como eleitoras que vou escrever na próxima semana.
Espero que tenham curtido e que este texto possa ajudá-los a refletir sobre a escolha de seus candidatos no dia 7 de outubro!
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Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci