No mês de setembro, o Rio de Janeiro recebe as Paralimpíadas. Após conhecer de perto a história de Susana Shnarndorf, certamente, teremos mais motivos para torcer. Confira sua história de superação e de competição pela vida!
Os desafios nunca foram poucos na vida da atleta Susana Shnarndorf. Além dos seus adversários no esporte, ela sempre teve que superar obstáculos ainda maiores, a exemplo de cirurgias e, desde 2005, um grave problema de saúde. Mas, às vésperas das Olimpíadas do Rio de Janeiro, ela se prepara como nunca para, mais uma vez, subir ao mais alto lugar do pódio.
O esporte na vida de Susana veio muito cedo. Aos 11 anos de idade, entrou numa escolinha de natação chamada Tibungo. Na época, sua mãe, Marian Ertel Shnarndorf, tentou levá-la para o balé, mas Susana estava determinada a nadar. Era muito competitiva e se inspirava nos irmãos, que praticavam canoagem. A família sempre foi ligada à natureza e, frequentemente, acampavam, remavam e iam pra praia. Vencida pela insistência da filha, Marian matriculou a pequena nadadora para treinar duas vezes na semana. Não contente, Susana logo estava treinando todos os dias. Seu desempenho era progressivo. Um dia, participou de uma pequena competição em outra escola de natação chamada Mauri Fonseca (um dos técnicos de natação mais respeitados do Rio Grande do Sul). Susana ganhou a prova, e o próprio Mauri a convidou, então, para treinar em sua escola. Susana atribui a Mauri os verdadeiros princípios para conquistar suas metas na natação. “Ele sempre me dizia que treinar era como construir um muro, cada dia você precisa colocar um tijolinho e, se faltarem tijolos, o muro cai.”
Aos 15 anos, foi convidada para nadar pelo Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte, onde ficou até os 20 anos de idade. A dor da separação dos pais foi grande, mas eles não podiam limitar a vontade e a determinação da filha. “Quando o avião decolou com ela, choramos muito”, lembra a mãe. Foram seis anos muito intensos que a colocaram em posição de destaque na natação infanto-juvenil brasileira. Após uma lesão nos joelhos, teve de voltar para Porto Alegre. Passou por um processo cirúrgico nos joelhos e se despediu de vez da natação… Já no período da recuperação, conheceu o triatlon na academia onde fazia musculação.
Apaixonou-se pela modalidade e pediu ao pai uma bicicleta para competir. Ervino Schnarndorf, que sempre apoiara Susana no esporte, permitiu que ela fosse ao Paraguai comprar sua primeira bicicleta. Ao engajar-se no circuito, foi logo convidada para se mudar para o Rio de Janeiro. Tanta dedicação fez com que ela completasse 13 Ironmans e se tornasse 5 vezes campeã brasileira.
Em meio a tantos treinos e competições, a realização de Susana tornou-se ainda maior ao ser mãe de três crianças, filhos de seu ex-marido, com quem foi casada por 10 anos.
Após a separação, em 2005, a saúde de Susana passou a ser sua maior preocupação. Alguns sintomas de engasgos e falta de coordenação começaram a impedir a continuidade de sua carreira no triatlo. Na busca por diagnósticos, alguns médicos limitaram seu tempo de vida; outros, porém, incentivaram-na a voltar a praticar algum esporte.
E, por amor aos filhos, pensando em prolongar os dias de vida ao lado deles, Susana voltou a nadar. “Foi um período muito difícil, porque eu não tinha mais condição de cuidar dos meus filhos. Tive que deixá-los ir com o pai porque eu tinha certeza de que ia morrer logo”, conta. A atleta tem Múltipla Atrofia do Sistema, uma doença degenerativa parkinsoniana. Mesmo em alto grau de depressão, voltou a nadar no clube onde treinava triatlo, no Rio de Janeiro. Em 2010, a equipe de natação paralímpica teve um período de treino neste mesmo Clube e viram em Susana um grande potencial. Embora ela não acreditasse mais que fosse capaz de dar algum resultado, foi tentar a classificação paralímpica e, já na primeira competição, bateu 5 recordes brasileiros.
Em 2011, passou a integrar a seleção brasileira de natação paralímpica e representou o país nos Jogos Paralímpicos de Londres, 2012, ficando em quarto lugar no nado peito. Em 2013, foi eleita a melhor atleta paralímpica do ano, após bater o recorde mundial nos 100 metros nado peito – classe SB6, em Montreal – Canadá. “Tirei força nos meus filhos, nado por eles e para eles. A natação é meu remédio diário”, explica Susana.
Tais conquistas fortaleceram Susana para continuar e vencer seus limites. Porém, a doença progrediu em 2015, e, por isso, ela precisa passar por outro processo de reclassificação (Susana iniciou na Classe S8 e por três anos ficou na S6; seus resultados caíram significativamente). A esperança agora é que, em abril, ela seja reclassificada numa classe em que esteja apta a competir e daí, então, dar o seu melhor na terra natal. Embora a nova classe traga chances de medalhas, sua doença progrediu. Mas o foco da atleta é trazer alegria aos filhos e ao povo brasileiro. “Competir praticamente no quintal da minha casa é algo inexplicável, uma alegria imensa”, conclui.
* Com a colaboração de Luciane Tonon, escritora que prepara livro sobre a trajetória da atleta.
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Rê Spallicci