Transformar um momento de dor e perda em superação é um desafio para poucos. Mas Paulo Eduardo Chieffi Aagaard, o Pauê, mostrou que é possível.
Anos 2000. Paulo Eduardo Chieffi Aagaard, o Pauê, é um rapaz de 18 anos, morador de São Vicente e apaixonado por esportes. Pratica musculação, natação, surfe e projeta cursar a faculdade na área da saúde.
Um dia, ao voltar para casa, um acontecimento mudou a sua vida para sempre. Pauê foi atropelado por um trem quando atravessava uma linha desativada e perdeu parte das pernas. “Eu me lembro de tudo. Do momento do acidente, do choque, do trauma. Lembro de ir para o pronto-socorro, lembro do meu pai na ambulância me acompanhando e das palavras do paramédico. Lembro do momento em que acordei na UTI e de pensar muitas vezes que aquilo tudo não estava acontecendo”, revela Pauê.
Mas ainda neste torpor e em uma cama de hospital, Pauê tomou a decisão mais importante de sua vida: encarar o desafio e fazer daquilo um momento de aprendizado e de crescimento tanto espiritual quanto pessoal. “Naquele momento, eu decidi que não ia esperar que o mundo me trouxesse uma resposta, mas que eu ia me posicionar perante aquela dificuldade e traçaria objetivos para superá-la!”
Foi com esta decisão em mente que Pauê passou por todas as particularidades da adaptação à nova vida, desde reaprender a andar com as próteses que passou a usar, até buscar objetivos ainda maiores. “Ao reaprender a andar, tive a sensação de que tudo daria certo. Voltar a andar era a minha maior vontade. Mas, ao mesmo tempo, criei outra meta, ainda mais ambiciosa: decidi voltar a surfar. E, na minha cabeça, se eu voltasse a surfar, poderia fazer qualquer coisa.”
Dedicação e paciência
Mas até chegar ao estágio de voltar a andar com próteses, Pauê teve de passar por vários estágios, os quais conseguiu encurtar por meio de sua dedicação e pela prática de esportes. “Antes de voltar a andar, já praticava natação e fortalecia meus músculos treinando musculação. Então, quando fiquei a primeira vez numa barra paralela para tentar andar, foi mais fácil do que eu imaginava, porque eu havia me preparado física e mentalmente para aquilo”, revela.
Em menos de três meses, mediante a fisioterapia, usando próteses, com determinação e persistência, Pauê não só voltou a andar como também a surfar. Tornou-se o primeiro e único surfista biamputado do mundo e, confirmando sua previsão de que, se surfasse poderia fazer qualquer coisa, não parou mais de colecionar títulos.
Em seu currículo constam o Campeonato Mundial de Triathlon, de 2002, em Cancún, no México; o pentacampeontato do Troféu Brasil de Triathlon; uma medalha de bronze no Pan-Americano da modalidade e mais outros títulos em categorias isoladas (natação, ciclismo e corrida).
Além das ondas
Com o passar dos anos, Pauê foi conquistando títulos também fora do esporte, recebendo prêmios por seu trabalho na educação. Sua imagem de superação ajudou a mudar paradigmas na sociedade brasileira.
No final de 2008, publicou o livro “Caminhando com as próprias pernas”, no qual narra suas memórias. A obra inspirou a produção, no ano seguinte, do vídeo-documentário “O Passo de um Vencedor“ (www.opassodeumvencedor.com.br). “Muitas vezes a gente se amedronta com as surpresas que a vida nos reserva e com os desencontros que vivenciamos. E aí o medo toma conta de nós, gerando insegurança, desconforto, pavor e pânico. Mas, sob meu ponto de vista, nossa vida segue de acordo com nossas experiências, de acordo com aquilo que vivemos. No meu caso, por ter passado por uma situação como essa, aprendi a ver tudo na vida como uma possibilidade de aprendizado e de possibilidade de superação.”
Hoje, formado em fisioterapia e bastante requisitado para palestras no meio corporativo, Pauê quer aproveitar sua história para passar uma mensagem a todos aqueles que enfrentam obstáculos na vida. “Quero mostrar às pessoas que elas sempre podem superar as dificuldades e seguir adiante. Sempre com um olhar otimista, não de confronto, mas de busca, de iniciativa e de proatividade. Se eu conseguir inspirar outras pessoas neste sentido, já me sinto recompensado”, finaliza.
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Rê Spallicci