Os gadgets no esporte

Eu sou uma apaixonada por tecnologia! Se esta tecnologia pode ser aplicada no esporte, então… o interesse é ainda maior! E, nesses encontros felizes da vida, eu tive a oportunidade de conhecer o Altamiro Bottino, profissional de educação física, especializado em ciência do futebol, coordenador científico do São Paulo Futebol Clube, e uma pessoa que está sempre antenada com o que de mais moderno existe em termos de tecnologia para o esporte.

É claro que eu bati um superpapo com ele sobre o tema para compartilhar com vocês as novidades e expor o quanto os gadgets estão mudando o mundo do esporte de alto rendimento e também o esporte amador! Vamos conferir a conversa?

A tecnologia invade o esporte

Renata Spallicci – O mundo dos esportes está cada vez mais tecnológico. Como os gadgets podem ajudar os atletas, tanto os de alto rendimento como os amadores?

Altamiro Bottino – O primeiro grande avanço nos gadgets foi a capacidade de receber a informação em tempo real. Isto significa poder analisar e promover uma mudança da condução do treino. Até então as poucas ferramentas disponíveis eram usadas e só depois do treino os dados eram descarregados e analisados. E, muitas vezes, quando havia alguma inadequação, não era possível corrigir. O segundo momento foi o armazenamento em nuvem, o que dá acesso aos diferentes profissionais que queiram acompanhar e contribuir com o sucesso do treino.Além disso, a massa de dados permite melhor visualização da progressão e até mesmo análises comparativas com pessoas com o mesmo espectro de treino e de características físicas e objetivos iguais.O uso de Big Data e de machine learning está revolucionando a interação do dispositivo com o usuário. Algoritmos matemáticos cada vez mais sensíveis e precisos dão maior robustez nos gráficos e relatórios gerados.

Renata Spallicci – Quais as principais novidades em termos de gadgets que destacaria hoje?

Altamiro Bottino – A integração com a rede de celulares, facilitando a observação remota em tempo real por outros profissionais, a incorporação de GPS, acelerômetros, inclinômetros e giroscópios aos dispositivos. Isto permite captar qualquer movimento executado, analisando a magnitude de cada um.Os maiores avanços surgiram no uso de tecnologias integradas para medir batimento cardíaco no punho e o uso de espectroscopia de infravermelho para analisar o fluxo sanguíneo.Talvez a maior novidade seja o monitoramento do sono. Quantidade e qualidade agora podem ser desmembradas e observadas. A quantidade de movimento, os ciclos e fases do sono.

Renata Spallicci – Pode nos dar um breve resumo de cada um deles?

Altamiro Bottino – A maioria dos novos dispositivos incorpora as funções mais comuns de relógios, agregando recursos para análise dos treinos. Hoje é possível analisar o gasto energético da atividade, o nível de estresse, o cansaço, e até identificar a fonte de energia utilizada para executar o exercício. Sempre que a intensidade sobe, há produção de metabólitos, dos quais o mais conhecido é o lactato. Por espectroscopia infravermelha é possível identificar o aumento dele na corrente sanguínea, sem precisar retirar amostras de sangue.

Renata Spallicci – O que você vê hoje sendo utilizado pelos atletas de alto desempenho, e que logo deve estar disponível para todos?

Altamiro Bottino – Os analisadores metabólicos, os sensores de movimento para análise de desequilíbrios de cadeias musculares e os sensores de pisada (baropodometria dinâmica).

Renata Spallicci – O que estas inovações podem proporcionar de avanço para a longevidade e qualidade de vida?

Altamiro Bottino – A integração com bases gigantescas de dados populacionais oferece informação útil na estratificação de perfis, a geração de alertas sempre que os valores se apresentarem fora da curva padrão do indivíduo, possibilitando correção. E ainda servirão como estímulo para maior aderência em programas regulares de exercício físico.

Renata Spallicci – Se tivesse que sugerir um kit básico de gadgets para uma pessoa que pratica atividades físicas regularmente e pretende melhorar seu desempenho, o que sugeriria?

Altamiro Bottino – Pensando em custo baixo, uma pulseira com os recursos básicos citados acima. A Mi Band 4 da chinesa Xiaomi vendeu 1 milhão de unidades nos 8 primeiros dias de seu lançamento. Chegou a vender 5 mil pulseiras por hora. Em 2018, a versão 3 precisou de 17 dias para alcançar este número.Entre os mais sofisticados, temos o Garmin Fenix 5X, o Polar Vantage V e o Oura.

Renata Spallicci – Hoje um atleta não consegue uma performance positiva sem a ajuda da tecnologia?

Altamiro Bottino – Consegue, sim. A grande diferença é o preço que pagará por isso.
Sem usá-las, ele pode atingir o máximo provocando sobrecargas ao corpo e seus sistemas. A tecnologia permite atingir níveis ótimos (e não máximos), o que garantirá maior sustentabilidade e este é o grande segredo para a evolução das marcas desempenho). Interrupções provocadas por excessos são os maiores inimigos da performance.

Acredito que esta última resposta do Altamiro resume bem o que penso sobre o uso da tecnologia! Ela não tem somente o objetivo de melhorar nosso desempenho, mas sim, de nos proporcionar  o exercitar com segurança, evitando lesões e outros problemas de saúde.

Vejo que, em um futuro próximo, todos teremos ainda mais dados sobre nosso metabolismo em nossos pulsos,  ajudando-nos a ter uma vida com mais qualidade e mais saudável!

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Rê Spallicci