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O poder da mente e do autoconhecimento no esporte

Seja para atletas de alto rendimento ou para atletas amadores, o preparo mental é tão importante quanto o preparo físico. Gabriel Puopolo de Almeida, psicólogo do esporte, conta a importância da mente e do autoconhecimento na busca por resultados.

 13 de maio de 2016
9 min de leitura

O poder da mente e do autoconhecimento no esporte

“O corpo nunca responderá completamente aos seus treinamentos até que você entenda como treinar a mente também. A mente é um dínamo, uma fonte de energia vital. Essa energia pode ser negativa e trabalhar contra você, ou pode ser utilizada para dar-lhe treinamentos inacreditáveis e desenvolver um físico que se mantenha até suas mais entusiásticas expectativas.”

Arnold Schwarzenegger

O que diferencia um atleta que alcança resultados excepcionais de  outro que consegue apenas bons resultados? Seu treinamento? Sua técnica? Sua habilidade nata? Ou sua mente?

Para Gabriel Puopolo de Almeida, psicólogo do esporte e que atua em equipes de alto desempenho no futebol e em diversas outras modalidades, a mente é cada vez mais um fator de diferenciação. “Corro um enorme risco em dizer isso, mas, de fato, acredito que o alto desempenho esportivo depende em 100% de condições psicológicas adequadas. Claro que depende também em 100% das condições físicas, técnicas e táticas necessárias ao alto rendimento, mas penso que o fator psicológico vem se mostrando cada vez mais preponderante, inclusive pelo fato de, no alto nível, as preparações nos demais âmbitos serem bastante parecidas”, revela.

Quando acompanhamos alguns resultados recentes do esporte, temos a comprovação do que afirma Gabriel.  Afinal, o que explicaria a derrota brasileira para a Alemanha na última Copa do Mundo pelos vexaminosos 7 a 1 que não uma desestruturação mental? Por mais que possamos discutir a inferioridade técnica e tática do time brasileiro em relação à equipe alemã, certamente o desnível entre elas jamais justificaria um placar tão elástico.

A mente é um importante instrumento e, quando ela não está totalmente preparada para suportar a carga emocional de uma competição, ou até mesmo de uma meta pessoal traçada por um atleta amador, este descompasso se reflete automaticamente no resultado e na performance esportiva. “A gente pode entender isso pelo fato de que apenas quando há um estado emocional e cognitivo propício é  que o atleta consegue colocar em prática tudo o que executa nos treinos. Isso vale não apenas para o esporte, mas para a vida em geral. Quem nunca sofreu ou viu alguém sofrer um ‘branco’ durante uma apresentação, um teste ou reunião importante, dando a impressão de estar bem menos preparado do que realmente estava?”, comenta Gabriel.  Segundo o especialista, cabe à dimensão psicológica integrar a motricidade, os conhecimentos táticos e mesmo o potencial fisiológico, de modo a garantir o alto desempenho. Ele explica que atletas de alto nível são justamente aqueles que possuem a prontidão psicológica adequada nos momentos de treino e de competição, que conseguem manter um estado ótimo de atenção e presença, além de dominarem pensamentos e emoções que atrapalham o desempenho. “O importante de se entender aqui é que esta habilidade não é algo com o qual a pessoa nasce, mas sim, é uma série de características de personalidade e formas de abordar a prática esportiva e profissional que podem – e muito – ser desenvolvidas por meio de trabalhos psicológicos adequados”, afirma.

 Treinar a mente

Cada vez mais o esporte de alto rendimento vem investindo em estruturas multidisciplinares no preparo dos atletas e, nesse contexto, o trabalho do psicólogo do esporte é um dos importantes pilares. Embora a psicologia esportiva date do final do século XIX e, no Brasil, tenha tido destaque em 1958 com a presença do Dr. João Carvalhaes  na delegação da seleção brasileira de futebol que foi à Suécia, na Copa do Mundo, até pouco tempo eram raros os clubes e confederações que investiam realmente em uma preparação psicológica adequada para seus atletas. “O atleta não deixa o ‘psicológico’ no vestiário quando entra em campo ou em quadra, assim como também não esquece que possui um corpo ‘físico’, quando participa de uma atividade da psicologia. É preciso sempre atuar em conjunto, compartilhando ideias, impressões e métodos das diferentes áreas, para que a busca pelo alto nível seja bem-sucedida. Em meu ponto de vista, este é o grande desafio das equipes nos dias de hoje”, analisa o especialista.

Mas, se no esporte de alto rendimento o preparo psicológico já é uma realidade, o que podemos dizer dos atletas amadores? Será que há também a necessidade de um preparo psicológico? Na opinião do psicólogo a resposta é sim. Apesar de objetivos diferentes do esporte de alto rendimento, o atleta amador também necessita preparar sua mente para definir e cumprir metas. “O mais importante, nesses casos, é um dimensionamento adequado das intenções do praticante. O que ele espera atingir, quais são as condições (materiais, de tempo, etc.) que possui para isso e quais são os benefícios que pretende extrair da sua prática. A psicologia do esporte está presente em todos os tipos de prática física e, para amadores, não seria diferente”, explica.

Segundo ele, em primeiro lugar, o atleta amador precisa buscar entender os motivos que o estão levando a querer iniciar uma prática esportiva. “Todo e qualquer motivo é válido, mas é importante ter consciência do por que se quer ingressar na prática. Isso facilita tudo. Em seguida, é fundamental, sozinho ou com a ajuda de um profissional, montar um plano que atenda a suas motivações e que seja adequado aos seus recursos de tempo, dinheiro, etc. Uma vez feito isso, vem a parte mais difícil: executar!

Autoconhecimento é essencial

Mesmo tendo ciência das motivações e um plano bem desenhado, enfrentamos dificuldades em aderir ao plano e realizar aquilo que nos levará aos nossos objetivos. É aí que o autoconhecimento se torna essencial. Entender o motivo da preguiça também é importante! Outro aspecto fundamental é entender que a mente e o corpo não são separados, mas diferentes expressões da mesma coisa, a vida humana. O que ocorre na mente ocorre no corpo e vice-versa. Por isso, o esporte é uma maneira bastante interessante de se trabalhar a consciência de si mesmo. No entanto, o processo de autodescoberta estimulado pela prática esportiva pode ser prazeroso, ocasionalmente, mas, muitas vezes, também não o é. Em várias circunstâncias, temos dificuldade em aceitar nossos limites, o que torna o processo de superá-los ainda mais complexo. Portanto, seria valioso procurar associar a prática esportiva a alguma outra de cunho terapêutico, como meditação ou mesmo psicoterapia”, recomenda.

E completa. “A mente pode criar uma barreira como o conjunto de conflitos e defesas de ordem psicológica que nos impede de explorar potenciais escondidos na gente, e que, portanto, demanda um trabalho especial, voltado ao autoconhecimento, para serem encontrados. Em sua essência, a prática esportiva de alto nível implica na busca de limites não necessariamente para superar o outro, como uma forma de submeter o adversário, mas sim, como uma maneira – um tanto terapêutica – de se conhecer melhor. Em minha opinião, o atleta (seja ele amador ou profissional) que busca a si mesmo em sua prática tende a ter um melhor desempenho que aquele que visa apenas ganhar e ser reconhecido pelos outros como o melhor.  Nesse sentido, o adversário é muito mais um parceiro do que um inimigo, pois preciso dele para poder encontrar minha melhor performance. Este é o sentido essencial do esporte”, finaliza.

Seja para competir em alto nível, seja para praticar seu esporte favorito, o preparo mental e o autoconhecimento são tão importantes quanto a boa forma para que você possa alcançar os objetivos a que se propôs. Portanto, trate de colocar seu corpo e sua mente em equilíbrio e perfeita sintonia, trabalhando juntos em direção às suas metas!

 

gabriel-almeida

 

Gabriel Puopolo de Almeida é Bacharel em Esporte, Bacharel em Psicologia & Psicologia Clínica, Especialista em Psicologia Clínica, Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e atua como Psicólogo de equipes esportivas de alto desempenho em clubes e confederações desde 2007. É instrutor da CBF na área de Psicologia do Esporte.

 

 

 

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Rê Spallicci