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Elas na Copa – A copa mais feminina da história!

Mundial da Rússia pode ficar marcado como aquele em que as mulheres passaram a assumir protagonismo

 5 de julho de 2018
8 min de leitura

Conheça as estrelas da Copa 2018

Há cinco semanas eu dei início à série “Elas Na Copa” que teve o objetivo de retratar um pouco a mulher no futebol, neste mês em que todos os olhos do planeta estão voltados para a Copa do Mundo da Rússia! Falei sobre o trabalho das jornalistas no futebol, das jogadoras e árbitras profissionais, das apaixonadas pelo esporte, de um grupo de mulheres que se organizou para ir à Rússia e até sobre a moda em verde e amarelo.

Estas cinco matérias eram o meu objetivo inicial, mas, conforme o mundial foi se desenvolvendo, percebi que o assunto “mulher e copa do mundo” tomou uma dimensão nunca antes explorada. Isto, somado a alguns fatos que aconteceram no período, fez com que eu quisesse publicar mais este artigo para encerrar a série! Vamos lá, então?

Um basta ao assédio

#deixaelatrabalhar

A primeira matéria da série “Elas na Copa” abordou a campanha contra o assédio às mulheres jornalistas nos estádios de futebol, a #deixaelatrabalhar. E, infelizmente, vimos na Copa do Mundo que o machismo e a imbecilidade não têm fronteiras!

Antes mesmo do início da Copa, Julieth González Therán, enviada especial da Deutsche Welle a Moscou, foi agarrada à força e beijada no rosto por um homem, na Praça Manege, enquanto fazia uma transmissão sobre a contagem regressiva para a cerimônia de abertura. No estúdio, diante do constrangimento da repórter colombiana, a apresentadora Ana Plasencia desabafou, questionando as medidas de segurança tomadas pela Rússia para receber o Mundial: “Percebo que os torcedores tomam a liberdade de distribuir beijos sem pedir permissão”. Para poder terminar a transmissão, Therán teve de ser cercada por pessoas que presenciaram o assédio e a protegiam de novas investidas. Em seu perfil no Instagram, ela se pronunciou, exigindo respeito. “Não merecemos esse tratamento. Somos igualmente competentes e profissionais. Compartilho a alegria do futebol, mas devemos identificar os limites entre afeto e assédio.”

No jogo entre Argentina e Islândia, fora do estádio de Nizhny Novgorod, um torcedor islandês fantasiado ameaçou interromper com gracejos a entrada ao vivo da repórter Agos Larocca, da ESPN, mas foi impedido por um produtor. Em frente a um dos portões de saída, a reportagem do jornal Superesportes registrou o momento em que dois torcedores argentinos assediaram e tentaram roubar um beijo de uma compatriota jornalista, que precisou se defender com o braço e o microfone para brecar a aproximação dos agressores.

A repórter da TV Globo, Júlia Guimarães, também sofreu um episódio desses: um homem a tentou beijar, quando ela se preparava para entrar ao vivo, antes do jogo Japão x Senegal, em Ecaterimburgo.

E eu adorei a reação dela!!! “Eu não te autorizei a fazer isso. Nunca! Ok? Isso não é educado, isso não é certo. Nunca faça isso! Nunca faça isso com uma mulher. Respeito!”, pediu a jornalista que já havia passado por situação parecida também nesta copa do mundo.

Se, por um lado, os relatos nos deixam irritadas e envergonhadas, por outro, o destaque que eles tiveram na mídia, e a reação das pessoas reprovando a atitude dos torcedores, mostram que não vamos mais nos calar, e que este tipo de comportamento não pode mais ser tratado como algo normal ou como uma simples brincadeira! Afinal, humilhar e constranger uma pessoa que está trabalhando, não tem nada de engraçado!

Torcedores nota zero!

mulher assediada na Russia por brasileiros

Um dos casos que mais ganhou repercussão aqui no Brasil foi da turma de torcedores brasileiros que também protagonizaram episódio de assédio em solo russo. Em vídeo que viralizou nas redes sociais, o grupo de torcedores com camisas do Brasil debocha de uma mulher – que, de acordo com informações compartilhadas nas redes sociais, seria uma repórter local e não entendia o português – cantando palavras obscenas e depreciativas. Algo constrangedor e vergonhoso!

Mas, novamente, o que me deixa com esperanças da força da nossa luta é que o caso não foi tratado como brincadeira, e os assediadores estão passando por poucas e boas pela atitude grosseira e criminosa!

Uma vitória no Irã

Mulher Iraniana vai aos jogos da Copa na Russia

Outro fato que chamou muito a minha atenção nesta copa foi a quantidade de mulheres mulçumanas nos estádios. O que para nós, ocidentais, pode parecer um programa normal, para elas é uma conquista e tanto! Afinal, muitos países mulçumanos proíbem a presença feminina nos estádios! Então, a Copa do Mundo para elas é uma oportunidade de assistir aos jogos fora de seus países e torcerem por suas seleções!

No estádio Luzhniki, a partida de abertura da Copa entre Rússia e Arábia Saudita contou com as presenças ilustres de algumas mulheres que, antes, nunca haviam tido a possibilidade de ocuparem uma arquibancada. Na saída do estádio, elas descreveram o sentimento daquele momento: liberdade.

“Como eu poderia me esquecer de um dia desses? Vai ficar para sempre. Isso representa liberdade. E de mulheres que foram se tornando cada vez mais fortes”, disse ao Uol Esporte a torcedora Dood Aziz.

Já as mulheres iranianas conquistaram outra importante vitória. No jogo entre Irã e Espanha, o governo concedeu às mulheres o direito de assistirem ao jogo que foi transmitido em um telão no estádio Liberdade (por ironia do destino, um estádio que proíbe a entrada de mulheres, chama-se “liberdade”). Para quem nunca pôde entrar em um estádio, mesmo a transmissão com imagem ruim e som falhando foi um marco!

Narração feminina

Jornalistas narram jogo da Copa pela FOX

Outra expressiva vitória nossa neste Mundial foi a primeira narração feminina de um jogo de Copa. O canal Fox Sports inovou e colocou a jornalista mineira, Isabelly Morais, à frente da transmissão do jogo de abertura entre Rússia e Arábia Saudita. E não faltou gol pra ela gritar, pois o jogo acabou 5 x 1 para os anfitriões! E a iniciativa não foi algo isolado, não, mas sim, fruto de um trabalho realizado pela emissora!

Tudo começou com o projeto “Narra Quem Sabe”, que escolheria uma mulher para narrar os jogos da Copa do Mundo para a televisão. A vencedora foi a jornalista mineira Isabelly Morais, com pouco mais de 20 anos, que já tinha sido a primeira mulher a transmitir um jogo de futebol masculino, pela rádio, em Belo Horizonte, Minas Gerais, no ano passado.

Ao lado dela, na narração dos jogos, estão a jornalista Vanessa Riche, que fez transmissões esportivas no SporTV no começo dos anos 2000 e se tornou uma das primeiras mulheres na narração televisiva, e a goleira da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, Bárbara, como comentarista.

Além de contar com uma narração inteiramente feminina durante as partidas, a Fox Sports 2 também transmite diariamente o programa Comenta Quem Sabe, às 20 horas, com as análises táticas e comentários sobre as rodadas da Copa do Mundo, comandado por Vanessa Riche, Lívia Nepomuceno e Daniela Boaventura. A narradora Isabelly Morais e a comentarista Nadine Bastos também participam da mesa.

É!! A gente sabe que o caminho ainda é longo, mas estou certa de que esta Copa da Rússia ficará marcada como o início de um protagonismo das mulheres no futebol! Os números mostram que esta é a Copa com maior representação feminina da história, quanto à  cobertura jornalística. Na Argentina, por exemplo, elas são apenas 10 de 220 homens credenciados, mas o dobro do que eram em 2014. E assim vamos caminhando!

Já somos mais representadas nas arquibancadas, nas emissoras de televisão e estamos dando um basta ao assédio! Que em 2022 tenhamos mais motivos para comemorar!

 

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Rê Spallicci