Diante do novo normal, é preciso que os líderes coloquem em suas agendas a preocupação genuína e honesta com a saúde mental e o bem-estar de seus colaboradores
Estamos estreando no blog um espaço para que outros profissionais possam se expressar compartilhando sua expertise em diversas áreas com os nossos leitores. O convidado de hoje é Milton Bragança, especialista em planejamento estratégico de Recursos Humanos, com larga experiência em projetos de liderança e desenvolvimento. Atualmente é diretor de Serviços de RH América Latina na Kantar.
O Papel da liderança no “Novo Normal”
Por Milton Bragança
Neste primeiro ano vivendo o tal “novo normal” aprendemos muito e nos adaptamos bem aos desafios iniciais que nos foram impostos de um dia para o outro.
Mas e nossos líderes? Será que estavam preparados para atuar de forma eficaz nesse “novo normal”?
Eu me atreveria a responder que não.
A verdade é que nunca preparamos nossa liderança para atuar dessa forma e todos os paradigmas de liderança, coaching, gestão de desempenho, entre outros que criamos em nossos processos de formação de líderes, não tinham foco em gestão de pessoas a distância, e muito menos em uma situação constante de estresse e desafios como a que enfrentamos.
Temas como qualidade de vida e saúde mental deixaram de ser algo interessante e simpático de se ter nas empresas e passaram a ser pontos de sobrevivência dos negócios e de sua sustentabilidade.
Pessoas trabalhando em espaços não adaptados, com interrupções, necessidade de conciliar o trabalho com os afazeres domésticos, barulhos inesperados durante as reuniões, filhos tirando dúvidas escolares no meio daquela conferência se tornaram situações normais do nosso dia a dia.
Tudo isso nos levou a criar certa flexibilidade e tolerância diante das situações… E até que nos saímos relativamente bem. Talvez um pouco pela falta de opção, mas o fato é que aprendemos a entender melhor nossas equipes. Foi preciso elevar o nosso nível de empatia e tolerância, além de dar o devido espaço para que as pessoas pudessem acomodar vidas pessoais diante dessas inesperadas situações.
Mas apenas tais posturas não bastam, pois quem ainda não entendeu o tal novo normal precisará perceber de forma urgente que é preciso também colocar em nossas agendas como líderes a preocupação genuína e honesta com a saúde mental e o bem-estar de nossos colaboradores. Se vivemos esse “novo normal”, precisamos de uma “nova mentalidade de liderança”.
Apenas o foco nos resultados não será mais sustentável, porque, se não cuidarmos da saúde mental e da qualidade de vida dos nossos times, e se esse empenho não estiver como nossa prioridade como gestores, hoje e provavelmente ainda por muito tempo, teremos de ver a frustração de nossas expectativas de negócios, além de perdermos nosso capital humano, a parte mais importante de qualquer organização.
Aprender a cuidar daquele colaborador solteiro, que vive sozinho, cuja rotina de ir ao escritório era um importante componente de sua vida social, ou daquele colaborador que encarou a COVID de alguma forma mais direta, que teve um de seus entes queridos enfrentando essa terrível doença, ou aquela mãe ou pai que precisou apoiar seus filhos para enfrentarem a mudança em sua forma de estudar, ou ainda o colaborador que não tinha a melhor infraestrutura para realização do trabalho em casa… e tantas outras situações que presenciamos nesses meses, criou a necessidade de uma competência estratégica para o papel do líder: a de saber desarmar essas tantas bombas-relógio que estão sendo programadas para explodirem a qualquer momento.
Portanto, teremos que repensar a formação de nossos líderes e ensinar a eles como dar o apoio necessário aos nossos colaboradores diante das mais diversas situações vividas e dos novos desafios, além de incentivá-los a entender que hoje isso é sua principal missão.
E como poderemos auxiliá-los para garantir êxito? Um bom começo é que esse tema esteja nas agendas dos nossos executivos como prioridade. Outra importante ação é que nossas áreas de RH redesenhem seus programas de desenvolvimento de liderança para colocarem uma carga especial, visando desenvolver e formar essa capacidade de lidar com novos temas e aumentar a empatia nos nossos líderes, e ainda ajudá-los a aprender como encarar as infinitas situações que podem vir à tona com toda essa mudança.
As empresas que assim procederem, tornando essa questão uma prioridade verdadeira, terão uma vantagem competitiva de médio e longo prazos que será traduzida no mais alto engajamento de seus colaboradores, melhor retenção e desenvolvimento de seus talentos e, por consequência óbvia, em resultados melhores e muito mais sustentáveis. E os líderes que aprenderem a lidar com o tema e desenvolverem as competências necessárias serão os talentos mais valorizados pelo mercado.
Aí poderemos afirmar, dessas empresas e desses líderes, que estarão, sim, preparados para atuar de forma eficaz no “novo normal”.
Por: Milton Bragança
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Milton Bragança é especialista em planejamento estratégico de Recursos Humanos, com larga experiência em projetos de liderança e desenvolvimento. Atualmente é diretor de Serviços de RH America Latina na Kantar.