Muito mais do que um desfile, meu Carnaval foi o ápice de um processo de aceitação e autoconhecimento.
Gente! Que alegria foi para mim este carnaval! A experiência de desfilar no sambódromo é algo verdadeiramente apaixonante e inexplicável!! É muito amor envolvido!
Agora… baixando um pouquinho da adrenalina daquela noite mágica, quero contar um pouco para vocês como foi minha noite de Musa de bateria da Acadêmicos de Tatuapé.
A espera que já foi uma festa!
Se vocês pensam que a alegria do carnaval se resume às duas horas na avenida, estão enganados! Para mim, a festa começou já no hotel em que me hospedei, ali ao lado do Sambódromo de São Paulo. Minha ideia era ficar bem pertinho pra dar uma relaxada e me arrumar para o desfile, mas a experiência que vivi lá foi muito além! Vocês não imaginam como aquele hotel ferve em ritmo de alegria e entusiasmo. O carnaval é megainclusivo, é uma festa com todas as cores, onde não há distinção de classe social na intenção, na alegria e na vontade de se fazer o melhor para suas escolas.
Claro que há também momentos tensos, com gente surtando porque algo deu errado com a fantasia, ou porque está atrasado, enfim, é um clima muito doido que mistura tensão, expectativa, alegria, união e também competividade.
Como minha escola desfilou por volta das 3h30 da manhã, tive muito tempo para me arrumar com toda a tranquilidade e curtir cada momento do pré-carnaval. Aliás, se há algo de que não posso me queixar é o quanto consegui curtir cada momento desta minha aventura: desde os ensaios até o pré-desfile e desfile, pude curtir cada pedacinho desta história com muita intensidade.
Uma oportunidade de extravasar
Quando eu anunciei que ia desfilar como Musa da Bateria, houve gente que achou mais uma extravagância da minha parte! “Mas a Re já virou atleta profissional de fisiculturismo e agora vai ser musa de bateria também? Ela não sossega?,” se perguntaram.
Mas a verdade é que eu tenho uma veia artística intrínseca em mim e que precisa destes desafios para se alimentar, e que realmente não pode sossegar! Por muitos anos, fiquei encaixotada em um mundo corporativo cheio de regras e, desde que decidi ser eu mesma e me libertar dos rótulos e preconceitos estabelecidos, amo cada oportunidade de extravasar este meu lado de artista e de me expor como sou em minha essência. E para isso não existe algo mais catártico que o Carnaval! Por mais que eu seja uma pessoa autêntica, descontraída e que se joga nas coisas que faz, o Carnaval me ensinou um sentimento de liberdade e de pura entrega que realmente não conhecia. Afinal, não é fácil para uma pessoa que vem do mercado farmacêutico, supertradicional e certinho, conseguir se libertar das amarras, se permitir e se jogar em uma experiência de forma plena! E por mais que eu lute para viver assim, sempre sinto que há uma amarra, fruto da educação e da minha vivência corporativa, mas que no Carnaval eu consegui ir soltando pouco a pouco até conseguir uma verdadeira explosão na avenida.
Um dia mágico
Dizer que o Carnaval é algo mágico e um mundo de sonhos é chover no molhado! Mas a minha experiência na avenida foi realmente mágica! Todo o processo de ir me libertando, de ir me permitindo curtir e extravasar alcançou o ponto máximo na avenida! Estava lá com meu time, com amigos queridos, com as pessoas que me apoiaram, desde o ateliê que fez a minha roupa, que é o Espaço Luz, até a Nina e a Amanda que cuidaram do meu cabelo e make desde os ensaios, o Domingos que foi o fotógrafo que me acompanhou em todo esse processo, todos juntos em um clima de alegria, de união, de companheirismo. A gente dançou, pulou, brindou com espumante, enfim, celebramos realmente de forma intensa e feliz.
A hora de entrar na avenida então… é muito, mas muito especial. Do hotel até a avenida fui recordando cada passo de minha trajetória até chegar lá. A timidez do primeiro ensaio, os aprendizados, as amizades que fiz… Tudo vem à mente, e você começa a ver a grandeza daquele momento. Quem vê o Carnaval da avenida sem estar envolvido não tem ideia do quanto o desfile em si é apenas um pedacinho ínfimo de todo um processo que começa meses e meses antes!
Claro que nem tudo são flores, e eu tive um percalço chatinho. A gente apertou demais o costeiro de minha fantasia que pinçou um nervo nas minhas costas e comecei a ter uma dor incrível no braço… Depois de um tempo, ele começou a formigar e eu pensava que ia enfartar na avenida!! Haha! Mas, graças a Deus foi só uma fantasia apertada e mais uma história engraçada para eu guardar na memória!
A verdade é que o que valeu foi estar ali! Quantos anos eu sonhei em estar na avenida e não me permitia por uma série de “desculpas” que a gente se arruma para não aceitar nossas amarras e preconceitos. Certamente, estar ali na avenida foi o ápice do processo de construção de uma nova Rê Spallicci. Uma mulher que renasceu há uns três anos, que resolveu vencer preconceitos, aceitar as vontades que moram em seu coração e de ser o que é em sua essência. Não a Renata executiva, a Renata atleta, a Renata blogueira, a Renata coaching. Mas a Renata Spallicci e ponto!
Somos mais do que rótulos
Lembro-me de que, quando era pequena e me perguntavam o que eu queria ser, eu dizia: quero ser artista! Com o passar dos anos, o sonho foi dando espaço à realidade. Entendi meu papel em minha família, a responsabilidade de continuar o legado deles ao dirigir a Apsen, me formei, cresci e entrei para a uma vida “normal”. Mas aquela menina artista ficou lá escondidinha dentro de mim e, nos últimos anos, ela veio aparecendo pouco a pouco, e entendo que, no Carnaval, foi o momento pleno de sua libertação.
Mais do que uma história pessoal, sei que minha trajetória é uma forma de inspirar as mulheres para que elas sejam também tudo aquilo com que sonham. O carnaval é o exemplo máximo dessa possibilidade de vivermos outros papéis, mas ele não precisa durar somente quatro dias.
Para mim, o Carnaval foi somente o símbolo de um processo que vivo há anos e que quero inspirar todas as mulheres a também viverem. Sejam o que são em essência. Não se deixem levar pelas obrigações do mundo, escondendo seus sonhos. Vivam em plenitude com seus diversos papéis e suas diversas vocações. Não deixem que a rotulem somente com uma pequena parte de tudo aquilo que você é! Vista a fantasia de sua essência, de sua identidade única e especial. Seja você, no Carnaval e em todos os outros dias do ano! Eu posso, você pode e todas nós podemos!
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Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci