Saiba o que é, como identificar e tratar a síndrome que acomete trabalhadores do mundo inteiro e leva ao esgotamento profissional.
E o Carnaval acabou… Muitas pessoas acham que o ano só começa oficialmente no Brasil depois do carnaval, afinal o brasileiro é um povo festeiro demais! E vamos combinar que nossa festa dá inveja em muitos países por ai! Eu curti muito a Bahia! Descansei, aproveitei o sol e oxigenei minha mente!
E você, curtiu o Carnaval? Aproveitou a folia para ferver ou para descansar? Ou não conseguiu se desligar do trabalho e voltou para a labuta com a sensação de cansaço e de que os dias em casa não foram suficientes? Se a sua resposta foi a última opção, muito cuidado! Você pode estar com os sintomas de uma doença que afeta boa parte dos trabalhadores no Brasil e no mundo: a síndrome do esgotamento profissional ou burnout.
Segundo estimativas da International Stress Management Association (ISMA), 72% dos brasileiros estão estressados, e mais de 30% dos 100 milhões de brasileiros sofrem da síndrome de burnout. Mas os brasileiros não estão sozinhos nesta triste estatística: 1/3 da população do Reino Unido sofre do mesmo mal, enquanto que, na Alemanha, se estima que 8% da população economicamente ativa apresente também os sinais da doença.
É um problema mundial que vem aumentando a cada ano e afeta não somente a saúde como também a economia. Profissionais excessivamente cansados geraram um prejuízo no Brasil de cerca de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto), de acordo com os dados mais recentes da ISMA.
O que é a síndrome de burnout
Descrito pela primeira vez, em 1974, como distúrbio psíquico por Herbert Freudenberger, um médico germano-americano, o transtorno está registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).Sua principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes.
O termo em inglês significa estar chamuscado, queimado, consumido por um fogo que se alastra como numa floresta. E é exatamente assim que se sente quem tem essa condição. É como se o corpo e a mente colocassem um ponto final e simplesmente pifassem. Um cansaço devastador que gera uma falta absoluta de energia. A pessoa sente como se todas as suas reservas estivessem esgotadas. No trabalho, aquele profissional antes competente e atencioso, liga o “piloto automático”. No lugar da motivação, surgem irritação, falta de concentração, desânimo e sensação de fracasso.
A pessoa não consegue relaxar. Não há carnaval, feriado prolongado e nem mesmo férias que sejam suficientes para repor toda aquela energia que foi sendo sugada ao longo do tempo. A única solução é realmente o tratamento.
Os sintomas do esgotamento profissional
Viver em um ambiente competitivo, cheio de pressão e estresse é algo que, infelizmente, faz parte do nosso dia a dia. Então, como saber diferenciar aquele estresse normal da nossa rotina com os sintomas que indicam realmente o burnout e necessitam de tratamento profissional?
Três características marcam a doença. A primeira é a exaustão, citada por 97% dos brasileiros na pesquisa do ISMA. Há fraqueza, dores musculares e de cabeça, náuseas, alergias, queda de cabelo, distúrbios do sono, maior suscetibilidade a gripes e diminuição do desejo sexual; 91% relataram desesperança, solidão, raiva, impaciência e depressão; 85% citaram raciocínio lento, memória alterada e baixa autoestima. A segunda característica, com traços emocionais, liga-se ao distanciamento afetivo. O profissional passa a ter contato frio e irônico com seus colegas de trabalho, fornecedores e clientes e, não raro, se torna aquela pessoa ranzinza e negativista que está sempre reclamando de tudo. A terceira refere-se mais à produtividade, com baixo grau de satisfação pessoal. A pessoa produz pouco e acha que isso não tem valor. A escalada até o caos é progressiva. É a velha história do sapo na água fervendo. Se você colocar um sapo na água quente, ele foge. Mas, se aumentar a temperatura, gradativamente, ele não percebe e vai se adaptando, até que um dia explode. Com o burnout ocorre o mesmo, pois as mudanças são graduais e em fases. Primeiro o sono já não consegue reparar o organismo, depois vem a queda no rendimento que começa a levantar dúvidas quanto à própria capacidade. Mais um pouco e se inicia a agressividade e, com ela, a liberação de hormônios que ampliam o risco de diabetes, cardiopatias, doenças autoimunes, crises de pânico e depressão. Por fim, o esgotamento total.
Cuidado com o perfeccionismo
Há uma frase de que eu gosto muito e uso como um mantra: antes feito do que perfeito! Ou seja, em tudo que faço, busco obter o melhor resultado dentro das minhas possibilidades, mas aceitando que raramente vou conseguir alcançar a perfeição. E é uma atitude importante para evitar o esgotamento profissional.
Segundo estudos feitos pela equipe da psiquiatra Telma Trigo, no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o burnout é produto de uma mistura de fatores pessoais, profissionais e sociais e, entre as causas individuais, destacam-se o perfeccionismo, que leva à busca de uma excelência às vezes impossível, e o idealismo em relação à profissão, cobrando um engajamento pessoal que vai além dos limites.
O perfeccionismo leva as pessoas com burnout a um ciclo vicioso. Isso porque, elas visam atingir a perfeição em todas as suas atividades e, como cada vez somos mais demandados em nossos trabalhos, fica ainda mais difícil obter a perfeição em tudo. Logo elas se frustram ou não entregam o trabalho nos prazos acordados, surgindo uma sensação de fracasso e de incapacidade total, que conduz ao desânimo e ao esgotamento mental.
Não somos multitarefas
Um dos primeiros fatores que levam ao esgotamento profissional é a forma como nós estamos lidando com as tecnologias e o trabalho. Não adianta, não somos pessoas multitarefas! Achar que vamos conseguir dar conta do trabalho, ao mesmo tempo que acompanhamos as notícias do Facebook e conversamos no grupo de amigos do WhatsApp, é uma grande ilusão.
Segundo pesquisa da Universidade da Califórnia, em San Diego, os americanos produziram 100 mil palavras e 32 GB de dados a cada 12 horas! E se há muita informação sendo produzida, obviamente estamos consumindo muito mais dados também!
Outra pesquisa, dessa vez da consultoria Deloitte, concluiu que, em 2015, os brasileiros conferiram seus celulares 78 vezes, em média, por dia! Nas pessoas entre 18 a 24 anos, este número sobe para pouco mais de 100 vezes.
É claro que assim perdemos o foco e, com isso, nossas atividades nos tomam ainda mais tempo, possibilitando maior acúmulo e volume de trabalho e pressão por prazos (gatilhos para o burnout).
E outro efeito da tecnologia em nossas vidas é que ela nos tornou disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana e, se você não impuser limites, realmente vai surtar.
Por isso, concentre-se em uma atividade por vez e não queira abraçar o mundo. Não agindo assim, o maior prejudicado será você! E, é claro, se sentir alguns desses sintomas, procure um médico, afinal há outras doenças físicas e mentais que também provocam um cansaço anormal que não passa nunca.
Como evitar e tratar
Por apresentar muitos sintomas semelhantes aos da depressão, a síndrome de burnout ou do esgotamento profissional é de difícil diagnóstico, mas a principal diferença em relação aos sintomas depressivos é que a causa está totalmente ligada ao trabalho. O tratamento para o burnout inclui o uso de antidepressivos e psicoterapia, além de atividade física regular e exercícios de relaxamento que também ajudam a controlar os sintomas. Mas é claro que o melhor remédio é a prevenção.
Em um país em crise, com taxa de desemprego de 12,8% e com as empresas precisando cada vez mais de resultados, nos afastar dos gatilhos que podem vir a nos levar ao burnout é quase impossível; portanto, a mudança tem que partir de nós mesmos.
Buscar o autoconhecimento e, assim, entender seus propósitos e limites é um expressivo passo para conseguir lidar melhor com a pressão do dia a dia e evitar a síndrome do cansaço.
E ainda: não use a falta de tempo como desculpa para não praticar exercícios físicos e não desfrutar momentos de descontração e lazer. Uma rotina de atividade física e da prática de hobbie também vão contribuir para que tenha uma válvula de escape e consiga se desligar do trabalho.
Por fim, aceite as coisas como elas são, não se cobre tanto e fuja das distrações e dos ladrões de tempo que roubam nossa atenção e produtividade.
Eu mesma já adotei deixar o celular no “não perturbe”, sempre que entro em uma reunião, e a medida me deixou muito mais concentrada e focada. E o mundo não parou de girar porque eu demorei meia horinha para responder àquela chamada no WhatsApp.
E, se nada disso adiantar, reveja seu emprego e até mesmo a sua carreira. Será que o que você faz está alinhado com seus valores e propósito de vida? Trabalhar contrariando aquilo em que acreditamos vai potencializar todo tipo de pressão e pode ser um fator primordial para o burnout. Trabalhos de coaching, técnicas de autoconhecimento e a busca pelo seu propósito podem ser também importantes aliados, não somente para ajudar no tratamento desses distúrbios, mas, principalmente para evitar que eles se instalem. Afinal, com uma vida mais plena e com objetivos definidos, fica mais fácil aguentar as pressões naturais do mundo corporativo. Aqui no blog, sempre que possível, tratamos sobre esses temas e metodologias que podem te ajudar na missão de identificar e realizar os seus sonhos. E, em breve, trarei ainda mais novidades sobre o tema que irão contribuir para que possa ir e, busca dos seus sonhos e da sua realização. Afinal, salário algum ou status valem sua saúde física ou mental.
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Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci