Estudos apontam que o uso exagerado das redes sociais pode causar riscos à saúde mental.
Desde que, há quatro anos, iniciei meus trabalhos aqui no blog e também nas mídias sociais, meu principal propósito sempre foi o de compartilhar iniciativas bacanas que pudessem inspirar as pessoas a obterem uma vida mais plena.
Em um mundo repleto de notícias assustadoras de devastação do meio ambiente, crise climática, fuga de refugiados e tantos outros mais, dar visibilidade a temas que possam promover o autoconhecimento, ajudar as pessoas a serem melhores, aceitando-as como são, e tantos outros que publico periodicamente, foi a forma que encontrei para inspirar pessoas e criar uma grande corrente do bem e de positividade.
Mas não podemos negar que a as redes sociais podem ter também seu efeito perverso…E é para alertá-los sobre este perigo que resolvi trazer este importante tema em meu blog.
Ansiedade e depressão
Não importa o que você fez hoje no seu smartphone ou computador, eu tenho certeza de que alguma rede social esteve envolvida… Você deu uma olhadinha no twitter, viu mensagens dos amigos no face, postou fotos do seu cachorro no Instagram e, provavelmente, uma dessas plataformas o trouxe até aqui.
Hoje, no Brasil, 62% da população ativa está em alguma rede social. E, além disso, com nove horas e 14 minutos diários de acesso à internet, ficamos atrás apenas de Tailândia e Filipinas, na estatística dos povos que mais ficam conectados.
Apesar da popularidade das plataformas de mídia social e da rapidez com que elas se inseriram em quase todas as facetas de nossas vidas, há uma notável falta de dados claros sobre como elas nos afetam pessoalmente: nossos comportamentos, nossas relações sociais e nossa saúde mental.
Entretanto, um novo estudo publicado no Journal of Social and Clinical Psychology traz dados preocupantes.
Os estudos associaram o uso das mídias sociais à depressão, ansiedade, pior qualidade do sono, baixa autoestima, desatenção e hiperatividade – geralmente em adolescentes.
“O que descobrimos em geral é que, se você usa menos mídia social, na verdade você fica menos deprimido e menos solitário, o que significa que a diminuição do uso da mídia social é o que causa essa mudança qualitativa em seu bem-estar”, disse Jordyn Young, autora do artigo e professora da Universidade da Pensilvânia.
“Antes disso, tudo o que podíamos dizer era que existe uma associação entre o uso das mídias sociais e a obtenção de resultados ruins com bem-estar”, disse ela.
Os pesquisadores dizem que esta é a primeira vez que um elo causal já foi estabelecido na pesquisa científica.
O estudo incluiu 143 estudantes da Universidade da Pensilvânia. Eles foram aleatoriamente designados para um dos dois grupos: em um que continuaria seus hábitos de mídia social como de costume, ou em um que limitaria significativamente o acesso às mídias sociais.
Durante três semanas, o grupo experimental teve seu uso de mídias sociais reduzido para 30 minutos por dia – 10 minutos em três plataformas diferentes (Facebook, Instagram e Snapchat).
A fim de manter essas condições experimentais, os pesquisadores analisaram os dados de uso do telefone, que documentaram quanto tempo foi gasto usando cada aplicativo por dia. Todos os participantes do estudo tiveram que usar iPhones.
Mas por que mesmo permitir que o grupo experimental use as mídias sociais?
“Não achamos que [abstinência completa] fosse uma representação precisa da paisagem do mundo em que vivemos hoje. A mídia social está ao nosso redor em tantas capacidades ”, disse Young.
Os resultados foram claros: o grupo que usava menos mídia social, apesar de não ter sido completamente eliminada, apresentou melhores resultados de saúde mental.
Leituras de base para os participantes foram feitas no início do julgamento em várias áreas de bem-estar: apoio social, solidão, ansiedade, depressão, autoestima, autonomia e autoaceitação.
No final do estudo, aqueles do grupo experimental viram a solidão e os sintomas depressivos declinarem, e as maiores mudanças ocorreram naqueles que haviam relatado níveis mais altos de depressão.
Instagram na pior posição
Outra pesquisa, a #StatusOfMind, publicada pela Royal Society for Public Health do Reino Unido, concluiu que das cinco redes sociais (YouTube, facebook, Instagram, Twitter, Snapchat) incluídas na pesquisa, o YouTube recebeu as notas mais altas em termos de saúde e bem-estar e foi o único site que recebeu uma pontuação positiva líquida pelos entrevistados. O Twitter ficou em segundo lugar, seguido pelo Facebook e depois pelo Snapchat – com o Instagram ficando na retaguarda.
Ainda em outro estudo, a #StatusOfMind, publicada pela Royal Society for Public Health do Reino Unido, coletou informações de 1.479 jovens (de 14 a 24 anos) de toda a Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. Durante quatro meses, as pessoas responderam a perguntas sobre como diferentes plataformas de mídia social impactaram 14 questões distintas relacionadas à sua saúde mental ou física.
Certamente havia alguns benefícios associados às redes sociais. Todos os sites receberam pontuações positivas para autoidentidade, autoexpressão, construção de comunidade e apoio emocional, por exemplo. O YouTube também recebeu notas altas por divulgar as experiências de saúde de outras pessoas, por fornecer acesso a informações de saúde confiáveis e por diminuir os níveis de depressão, ansiedade e solidão dos entrevistados.
Mas todos eles receberam marcas negativas também – especialmente para a qualidade do sono, intimidação, imagem corporal e sentimento de perda. E, ao contrário do YouTube, as outras quatro redes estavam associadas a aumentos na depressão e ansiedade.
Estudos anteriores sugeriram que os jovens que passam mais de duas horas por dia em sites de redes sociais são mais propensos a relatar sofrimento psicológico. “Ver amigos constantemente de férias, ou curtindo a noite, pode fazer os jovens sentirem que estão perdendo, enquanto outros aproveitam a vida”, afirma o relatório #StatusOfMind.
Mas mesmo com este elo de causalidade estabelecido, ainda resta uma questão maior e não respondida: por quê?
Nossas vidas curadas
Algumas teorias gerais vieram à tona, algumas óbvias e outras nem tanto.
Oscar Ybarra, PhD, professor de psicologia na Universidade de Michigan, acredita que a facilidade de comparação seja o principal problema das redes sociais, mesmo que, na maioria das vezes, a representação da realidade do outro seja extremamente falsa.
Ele observa que, mesmo que os indivíduos estejam cientes da natureza fake de muitas plataformas on-line, eles se sentem acuados por acharem suas vidas desinteressantes.
“Quanto mais você usa as plataformas, mais as comparações sociais tendem a induzi- lo a uma outra realidade, e isso se relaciona com um sentimento ruim de comparação.” E essas constantes “comparações sociais ascendentes” podem acontecer centenas de vezes por dia, dependendo da frequência com que você verifica seus feeds de mídia social.
Outro problema apontado pelos estudiosos é que as redes sociais, ao apresentarem muitas alternativas, tendem a nos fazer duvidar de nossas escolhas e traz um sentimento constante de perda.
Amy Summerville, PhD, professora de psicologia da Universidade de Miami, em Ohio, é especialista em questões de arrependimento e psicologia do que “poderia ter acontecido”.
Ela explica que este sentimento de perda é uma extensão de questões maiores de inclusão e posição social. Uma vez que nossas necessidades básicas sejam satisfeitas, como comida, abrigo e água, a necessidade de inclusão e interação social está lá, ela diz.
“A experiência de perda especificamente é a sensação de que eu, pessoalmente, poderia estar lá e não estava. Eu acho que parte da razão que é realmente poderosa é essa sugestão de que talvez não estejamos sendo incluídos por pessoas com quem temos relações sociais importantes ”, disse ela.
O uso agora onipresente de mídia social e tecnologia criou um mundo no qual podemos olhar para a nossa própria bola de cristal para ver o que nossos amigos estão fazendo em quase qualquer hora do dia. E isso não é necessariamente uma coisa boa.
As postagens nas mídias sociais também podem criar expectativas irreais e criar sentimentos de inadequação e baixa autoestima, escreveram os autores. Isso pode explicar por que o Instagram, onde as fotos pessoais tomam o centro do palco, recebeu as piores pontuações de imagem corporal e ansiedade. Um participante da pesquisa escreveu: “O Instagram faz com que meninas e mulheres se sintam como se seus corpos não fossem bons o suficiente, pois as pessoas adicionam filtros e editam suas fotos para que elas pareçam perfeitas”.
Outra pesquisa descobriu que, quanto mais redes sociais um adulto jovem usa, mais provável é que ele relate depressão e ansiedade. Tentar navegar entre diferentes normas e redes de amigos em várias plataformas pode ser o culpado, dizem os autores – embora também seja possível que pessoas com problemas de saúde mental sejam atraídas para várias plataformas de mídia social.
Então, todos nós deveríamos estar usando menos mídias sociais?
Talvez. Mas tanto Ybarra quanto Summerville dizem que não há pesquisa suficiente para estabelecer qualquer tipo de diretrizes reais.
“Eu não sei se eu diria, neste momento, que a pesquisa necessariamente diz que todos precisam colocar bloqueadores de aplicativos em seus telefones…Para mim, isso pode ser útil, especialmente para pessoas que já parecem lutar com emoções negativas e um sentimento de pertencimento”, disse Summerville.
A verdade é que, como tudo na vida, o equilíbrio é essencial. Viver uma vida só baseada em posts e likes certamente não é algo saudável nem para quem posta e nem para quem segue. Por isso, filtre bem os perfis e páginas que segue e, se sentir que algo está lhe fazendo mal, não deixe de tomar uma atitude e bloquear aquele perfil. E, sempre, sempre, procure ajuda, ao sentir qualquer sinal de ansiedade e depressão.
As redes sociais podem (e são) instrumentos maravilhosos de empoderamento, para dar voz a quem nunca teve, para unir e para compartilhar boas iniciativas e muitas outras coisas. Está em nossas mãos fazer as escolhas corretas e que sejam positivas para as nossas vidas!
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Rê Spallicci