Como as empresas forçosamente mudaram suas formas de trabalho em poucas semanas e o que veio para ficar
Todo desafio traz aprendizados. Muitas invenções e tecnologias que usamos são fruto de esforços de guerra e de buscas para soluções de problemas. E eu tenho a certeza de que, com a questão do Coronavírus, também avançaremos algumas casas em certos hábitos e tecnologias.
Não é de agora que acompanhamos uma tendência corporativa e dos negócios à digitalização. E-commerce, reuniões virtuais, treinamento por EAD, interações com clientes por meio de inteligência artificial, entre outros modelos, vinham entrando paulatinamente no vocabulário das corporações.
Só que, de repente, as empresas tiveram de fazer muitas dessas transformações quase que, literalmente, da noite para o dia. A quarentena imposta para evitar a disseminação da COVID-19 obrigou as empresas a fazerem, em menos de uma semana, uma transformação que imaginávamos em um cenário de cinco anos.
O Home-office é só a ponta do iceberg
Quando pensamos em mudanças drásticas que as empresas passaram nestas últimas semanas, certamente lembraremos, em primeiro lugar, da instituição generalizada do teletrabalho.
Neste ponto, acredito que a mudança está sendo muito mais comportamental do que tecnológica. Afinal, boa parte das ferramentas que colaboradores de todas as empresas estão agora usando à exaustão já estava aí, foi só uma questão de começar a usar.
E eu vejo que este movimento trará ao mundo pós-corona alguns importantes questionamentos: precisamos mesmo de tantas pessoas trabalhando em escritórios e se deslocando horas e horas para irem ao trabalho, quando podem fazer isso de suas casas? Principalmente quando temos informações de muitas empresas de que os níveis de produtividade estão acima dos apresentados anteriormente?
São necessárias tantas reuniões ao longo do dia? Ou podemos ser mais assertivos com reuniões e comunicações digitais e deixar as pessoas livres para terem mais tempo de executarem suas atividades e explicitarem seus talentos?
Temos profissionais capazes para atuarem de forma remota com responsabilidade e autonomia? Ou ainda seguimos métodos de liderança ultrapassados nos quais o líder sente que parte do seu poder está em tutelar e controlar seus liderados?
Se dúvida, estas são respostas que as empresas já têm que começar a buscar, porque o mundo pós-quarentena não será mais o mesmo neste aspecto.
EAD só para inglês ver
Outra mudança que percebemos neste momento diz respeito ao uso das ferramentas de ensino à distância, tanto nas instituições de ensino como nas empresas. No que diz respeito às instituições de ensino, acompanhamos dois cenários: algumas universidades tiveram uma mudança para as aulas virtuais totalmente tranquilas, já que seus sistemas e, consequentemente, seus profissionais já usavam a ferramenta. Por outro lado, outras instituições (e normalmente as mais tradicionais) tiveram uma dificuldade tremenda de instituir a nova forma de ensino, e aí, as dificuldades encontradas foram de todas as ordens.
Primeiramente, a questão tecnológica propriamente dita, mas esta talvez tenha sido a mais fácil de superar. Vi que o maior obstáculo esteve e está no próprio corpo docente! Sim, há um grupo de acadêmicos que ainda olham a tecnologia de comunicação à distância como algo menor e se sentia acima das interações tecnológicas. Professores doutores que interagem diariamente com jovens se orgulham de estar longe das redes sociais e das novas formas de comunicação, como se a tecnologia, que normalmente tende, sim, à superficialidade, não possa e não deva ser uma ferramenta indispensável para o ensino!
E, nas empresas, acompanhamos o mesmo cenário. Um amigo, dono de uma agência de comunicação, me contou que nunca teve tanta demanda para criar materiais de treinamento e comunicação digital. Mas, se as ferramentas já existiam, por que só agora as empresas resolveram investir? Porque a necessidade é a mãe de todas as ações!
Ações comerciais
Se temos todas essas questões para analisar, quando olhamos as relações das empresas da porta para dentro, o que não falar delas da porta para fora? Hoje, a presença comercial nas plataformas digitais já é uma realidade e quase uma situação sine qua non para boa parte das companhias. Mas o mundo digital vai muito além da venda pela internet. Na Apsen, por exemplo, a transformação digital é algo que vimos acompanhando e trabalhando há um bom tempo, e este momento nos mostrou que alguns caminhos que já estávamos tomando são essenciais e possíveis.
Por exemplo, a forma de interação dos representantes comerciais com o corpo médico. Por causa da nossa determinação de suspender as visitas neste momento da pandemia, percebemos ainda mais o quanto precisamos ter uma linha direta com médicos por canais digitais, que permitam estarmos mais próximos e de forma mais assertiva. Ainda bem que já caminhamos bem neste sentido e, certamente, isso será algo em que vamos investir ainda mais no futuro.
Notamos também empresas de varejo que estão investindo na interação digital de seu corpo de venda com os clientes, já que as lojas físicas estão fechadas. A Via Varejo, por exemplo, lançou uma plataforma interna de vendas intitulada “Vendedor On-line”.
A ideia é que as equipes da Casas Bahia e do Ponto Frio possam continuar trabalhando em casa, de forma segura, durante o esforço do País para combater o novo Coronavírus (Covid-19).
“Vamos dar novo impulso à nossa operação e-commerce com o lançamento de uma plataforma inédita para apoiar nossos vendedores”, afirmou o CEO da Via Varejo, Roberto Fulcherberguer à imprensa.
Diariamente, cada vendedor recebe da plataforma uma lista de clientes. O ambiente digital apresenta sugestões de produtos e argumentos de vendas capazes de sensibilizar os consumidores já cadastrados nas lojas.
A abordagem é realizada por telefone ou por intermédio da rede social, dado que todas as lojas já possuem suas páginas no Facebook, utilizando o formato Click To WhatsApp. Na sequência, a operação financeira deve ser concluída diretamente pelo cliente no site das marcas, com toda a segurança e total privacidade de dados.
A questão da privacidade e da separação pessoa física e jurídica
A verdade é que o mundo pós coronavírus não será o mesmo, e todas as questões referidas acima nos fazem também perceber que será essencial uma rediscussão do direito à privacidade, da diferenciação entre vida pessoal e profissional e do perigo do fim das relações pessoais.
Com mais pessoas trabalhando a partir de casa, qual o limite de interferência de um na vida do outro? Tudo bem um colaborador ser interrompido pelo seu filho durante um call? Ou tudo bem a empresa entrar em contato às dez horas da noite? E como tornar equipes unidas e focadas sem a relação interpessoal mais próxima? Qual o papel da comunicação e do endormarketing neste novo mundo?
Enfim, um novo mundo vai surgir com novas regras, novas tensões e novas arrumações sociais necessárias!
Mas estas perguntas por enquanto ainda estão sem respostas. Cabe a cada um de nós começarmos a construir as bases deste novo mundo.
E, na sua vida, o que você percebeu ter mudado com o coronavírus e que veio para ficar?
Cuidem-se e vamos em frente!
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Busque seu propósito. Deixe seu legado.
Rê Spallicci