Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil e ex-secretária do Tesouro Nacional no Governo Temer, e Mário Leão, Vice-Presidente Executivo no Santander Brasil, e membro do Comitê Executivo do Banco, fazem suas análises sobre o momento econômico do País.
Eu acredito que informação é algo essencial para todos nós. E, em um momento como o que vivemos, ela se torna ainda mais especial, para que possamos dar nossos próximos passos e planejar o futuro, mesmo em um cenário ainda de incertezas.
Por isso, conversei com dois pesos pesados do mercado, Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil e ex-secretária do Tesouro Nacional no Governo Temer, e Mário Leão, Vice-Presidente Executivo no Santander Brasil, e membro do Comitê Executivo do Banco, responsável por Corporate Banking na instituição.
Neste papo, falamos sobre a atual crise econômica no Brasil e no mundo, decorrente da pandemia do COVID, seus impactos e quais as perspectivas para a retomada.
Um cenário inédito
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a crise econômica pela qual estamos passando é algo inédito. Afinal, todos os países do globo, de uma forma ou de outra, foram afetados pela paralisação das atividades econômicas, em decorrência do isolamento social. Então, as análises não encontram um parâmetro de comparação que nos permita traçar qualquer paralelo.
Se compararmos, por exemplo, com a última grande crise de proporções mundiais, a crise financeira de 2008, as diferenças são brutais. “Aquela crise foi extremamente localizada no setor financeiro ultra-alavancado e teve reflexos na economia no sentido de que os bancos ficaram com menor capacidade de apoiar a economia. Mas foi uma crise setorizada. Já esta crise é totalmente diferente porque, por conta do isolamento social imposto pela pandemia, totalmente legítimo e necessário, as pessoas ficaram em casa, as viagens pararam, as empresas pararam, o consumo parou, e isso foi se alastrando, em momentos muito próximos, por todo o mundo. O mundo realmente parou, o que torna a crise muito maior e pior”, explica Mário Leão.
Por outro lado, ainda segundo Leão, ao contrário da crise de 2008, o sistema de bancos do mundo está muito saudável, o que pode ser um fator de contribuição na retomada. “Se tivéssemos uma combinação das duas crises, teríamos um cenário catastrófico.”
As ações para contenção da crise
Com este cenário de retração total da economia, os países tiveram que empreender medidas de despesas públicas, com o objetivo de transferir renda às pessoas mais vulneráveis, apoiar medidas de crédito, e promover um impulso monetário, entre outras ações. E, aqui no Brasil, também foram tomadas diversas medidas.
“Em termos de impulso fiscal, nós lideramos os países emergentes como um dos que mais empreendeu esforços fiscais para combater a crise. Aproximadamente, despesas em torno de 4,7% do PIB (Produto Interno Bruto), bem mais do que a média dos países emergentes e dos demais países da América Latina. Houve uma reação… e agora é ver como esta política vai chegar a quem ela se endereçava”, analisa Ana Vescovi.
Entre essas medidas, está o auxílio emergencial de R$ 600,00 para uma boa parcela da população, transferência de recursos ao BNDES, operações de crédito para pequenas e médias empresas, complementação das folhas salariais por meio do seguro desemprego, transferência de recursos para os estados e municípios, entre outras.
Além das medidas governamentais, os bancos também vêm agindo para auxiliar as pessoas e empresas neste momento. “Os bancos no Brasil e no mundo estão muito fortes e abertos para tentar mitigar os efeitos da crise. Aqui no Santander, por exemplo, estamos trabalhando em alongamento de muitas dívidas que vão vencer, estamos abertos para créditos novos, sempre com um viés de que as empresas precisam de tempo para pagar dívidas e de crédito para passar por este período de parada de produção”, reforça Leão.
As perspectivas econômicas
Mas, mesmo com todas essas iniciativas, as perspectivas para a economia ainda são bastante desafiadoras. Quanto ao Brasil, os estudos do Santander apontam para um encolhimento do PIB de 6,4% em 2020, e uma recuperação ano que vem, com um crescimento de 4,4%, voltando aos patamares pré-crise somente no final de 2022.
“A melhor notícia neste momento é que a inflação está totalmente controlada, até com um efeito desinflacionário sobre a economia, em virtude da pandemia. Neste cenário, a previsão de inflação é de 1,4% neste ano, 2,7% em 2021, voltando em 2022 para o centro da meta (3,505). Isso dá espaço para a autoridade monetária continuar diminuindo a taxa de juros. Imagina-se que podemos ter mais uma redução para 2,25 já em junho”, revela Ana Vescovi.
“Claro que a redução da SELIC tem como consequência a volatilidade cambial que traz uma dificuldade adicional à nossa economia, lembrando que já temos um ambiente de incerteza natural, em virtude do momento. O dólar chegou a um patamar de R$ 5,87, caiu um pouco nesta semana, mas a projeção é que o dólar termine 2020 no patamar de R$ 5,80, com uma queda para R$ 5,50 em 2021.”
Por fim, Ana acredita que é essencial que o Brasil, passada a crise, continue com o cumprimento de sua política fiscal, a fim de conseguirmos sair dessa situação de dificuldade. “A verdade é que estamos todos mais pobres e mais endividados, e somos nós que teremos que pagar esta conta”, conclui.
Bom, espero ter ajudado a todos trazendo este panorama que nos foi passado com excelência pelo Mário Leão e Ana Viscovi, aos quais demonstro minha gratidão pela aula de economia.
Por fim, gostaria de lhes deixar uma mensagem de otimismo e fé. Sim, teremos dias desafiadores e difíceis pela frente, mas esta não será nem a primeira crise nem a última a que assistiremos em nossas vidas. E uma coisa é certa: com mais ou menos obstáculos, vamos todos superá-la.
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Rê Spallicci